Cerimónia de Comemoração do 189.º Aniversário da Zona Militar da Madeira e do Juramento de Bandeira do 2.º Curso de Formação Geral Comum de Praças do Exército de 2025

Cerimónia de Comemoração do 189.º Aniversário da Zona Militar da Madeira e do Juramento de Bandeira do 2.º Curso de Formação Geral Comum de Praças do Exército de 2025

– Ponta do Sol –

Intervenção do Representante da República

 

Começo por felicitar todos os militares da Zona Militar da Madeira, cuja celebração do Dia da Unidade hoje nos faz juntar nesta cerimónia.

Se já estaria feliz por estar convosco neste dia, mais o fico por fazê-lo aqui, na Ponta do Sol, a terra que me viu nascer.

Nestes dias complexos, convém ter bem presente o contexto geoestratégico onde nos inserimos, dominado pelas relações de poder entre as grandes potências, perante uma guerra que nos afeta particularmente.

Com efeito, pela sua posição virada ao Atlântico, Portugal, com as suas Regiões Autónomas, encontra-se na intersecção de três áreas fundamentais: América do Norte, América do Sul e Norte de África. Não escolhemos esta geografia, mas cabe-nos aproveitar a mesma e assumir as responsabilidades que dela resultam.

É evidente a relevância geoestratégica do Arquipélago da Madeira e das águas soberanas que o mesmo acrescenta ao nosso País. As suas gentes, a sua economia, a sua riqueza em recursos e biodiversidade aí estão.

E é inestimável o papel que as Forças Armadas, garantes da soberania, face a uma situação de grande incerteza e imprevisibilidade, têm na afirmação desta relevância geoestratégica numa Europa que se pretende desenvolver em paz, assente no primado da democracia, do direito, na justiça social e na dignificação da pessoa.

O que ajuda a sublinhar o papel da Zona Militar da Madeira, neste seu dia.

Minhas Senhores e seus Senhores

Esta vocação atlântica, que não prejudica o empenho no processo de construção da União Europeia, concretiza-se em matéria militar com a integração de Portugal na Organização do Tratado do Atlântico Norte, com todos os benefícios, mas também com toda a responsabilidade daí decorrentes.

Com efeito, nesta situação de conflito latente, e dada a posição americana de um aparente afastamento, a Nato e a União Europeia têm de cuidar de assegurar por si a sua autonomia estratégica, aumentando o seu potencial militar, de uma forma coordenada, mas sem perturbar o Estado Social.

Será um equilíbrio nada fácil; mas, no contexto atual, o contributo de Portugal para a segurança global e para a Paz deve passar, antes de mais, pelo cumprimento dos compromissos internacionais por si assumidos e pela garantia da nossa segurança externa e interna.

Ora, a concretização da relevância das Forças Armadas e o seu contributo para todos estes desafios estratégicos colocados a Portugal demandam prioritariamente a criação de condições para que a vida militar seja atrativa para os nossos jovens.

O Mundo à nossa volta altera-se a uma velocidade nunca vista, e essa acelerada mudança não tem, sequer, um rumo inteiramente definido.

Penso, em particular, no que será o futuro da Inteligência Artificial, ferramenta que tem em si tanto de riscos quanto de oportunidades, incluindo nas suas aplicações militares.

Porém, dentro dessa mudança, tal como na matemática, há constantes.

Uma das coisas que não se altera é, precisamente, o facto de as Forças Armadas serem sempre constituídas por homens e, crescentemente, por mulheres.

Da lança à arma automática, os equipamentos mudam. Do cavalo ao carro de combate e aos drones, os meios evoluem. Mas sempre tais meios e equipamentos foram, são e serão – com maior ou menor auxílio da tecnologia – construídos e utilizados por seres humanos.

Oficiais, sargentos, praças e trabalhadores civis merecem carreiras com perspetivas e condições para o desempenho das suas diversas missões. Aos recursos humanos, há que somar os materiais e equipamentos, para que desta equação resultem umas Forças Armadas qualificadas, capacitadas e motivadas.

Penso ser esta a pedra de toque na discussão sobre o futuro dos nossos militares: a complexidade da sua missão não se compadece com soluções ad-hoc, de curto prazo ou eivadas de voluntarismo.

Numa palavra que procura resumir o meu raciocínio, a comunidade a que vós, militares, pertenceis exige a existência de Forças Armadas profissionalizadas, bem equipadas e modernizadas.

Os desafios que se desenham nos tempos de hoje exigem uma resposta adequada em equipamento, mas sem esquecer a valoração profissional dos homens e das mulheres que abraçaram a vida castrense.

Cara e caros jovens militares que hoje prestam o vosso juramento de Bandeira

É com emoção redobrada que partilho convosco este momento único e carregado de significado, nesta mesma terra onde cresci, onde dei os primeiros passos, onde fui educado com os valores que agora vejo refletidos em cada um de vós: honra, solidariedade e espírito de sacrifício.

O juramento de bandeira é um dos atos mais nobres da vida militar. É quando deixamos de ser apenas indivíduos e passamos a ser parte de algo maior: parte de uma missão, de uma história, de uma Pátria.

E fazem-no diante da bandeira que é mais do que um símbolo. É a alma de um povo. Uma bandeira que representa tudo o que somos, tudo o que fomos, e tudo o que aspiramos a ser.

A vida militar é feita de entrega, de superação diária, de amizade forjada nos momentos mais difíceis.

Estou seguro de que estarão à altura destas exigências.

Queridos militares, que este dia fique gravado na vossa memória com a força de um juramento sagrado. Que, onde quer que a vossa missão vos leve — cá dentro ou além-fronteiras — nunca se esqueçam deste momento.

E deixo-vos esta palavra final: obrigado.

Obrigado por escolherem servir a nossa Pátria.

Obrigado por honrarem a bandeira de todos nós.

Permitam-me também uma palavra para as vossas famílias.

Sei que, por trás de cada um destes jovens, há mães, pais, irmãos, cônjuges, namorado, namoradas e amigos que lhes deram apoio, que choraram de orgulho, que sentiram saudade. O vosso amor é invisível, mas está presente em cada passo que eles dão.

E a vossa atitude é essencial para que todos eles se sintam mais fortes no desempenho de uma missão por si exigente.

A terminar, volto a agradecer os mais diversos serviços que os homens e as mulheres da Zona Militar da Madeira têm prestado a Portugal, a esta Região Autónoma, e em missões no exterior.

Na passagem deste vosso Dia, aceitem este meu penhorado agradecimento.

Parabéns à Zona Militar da Madeira, a todos os que ali servem.

Vivam as Forças Armadas!

Viva a Região Autónoma da Madeira!

Viva Portugal!