Cerimónia do Dia do Combatente e 107.º Aniversário da Batalha de La-Lys

Cerimónia do Dia do Combatente

e

107.º Aniversário da Batalha de La-Lys

– 9 de abril de 2025–

Felicito o Núcleo do Funchal da Liga dos Combatentes por organizar esta iniciativa que assinala o Dia do Combatente e o centésimo sétimo aniversário da Batalha de La-Lys, e desejo à sua nova direção o maior sucesso para o seu mandato.

Aqui nos juntamos para recordar o passado. Mas pensemos também no presente e olhemos para o futuro. É que a vida – a individual como a coletiva –, é, de facto, um contínuo. E, por mais barragens que queiramos colocar neste fluxo da existência, o nosso presente é fruto do passado, tal como o futuro brotará das decisões que agora tomamos.

Comecemos pela História. Há cento e sete anos, nos campos da Flandres, travava-se a Batalha de La-Lys. Todos conhecemos a história do Corpo Expedicionário Português, desde o seu aprontamento – o famoso milagre de Tancos –, às condições de equipamento e armamento que lhe foram disponibilizadas.

Sabemos também a forma como terminou a Batalha que hoje assinalamos. A valentia dos nossos homens não foi suficiente para fazer frente à superioridade da força com que se depararam. Tratou-se, sem dúvida, de um dia trágico.

Mas não sabemos, hoje, o que cada um daqueles soldados pensava sobre o conflito para o qual foram arrastados. Ignoramos o que cada um deles sentiu nas trincheiras. Muitos deles, poucos meses antes, nem saberiam assinalar a Flandres num mapa, e agora ali estavam a lutar contra um inimigo que mal conheciam.

Faço esta chamada de atenção para sublinhar que uma História que ignora os homens que a fazem é uma História incompleta. Também por isso, monumentos como este junto ao qual nos encontramos, e esta própria cerimónia, fazem sentido.

Ao longo dos anos, muito se vai transformando na forma de fazer as guerras. As espadas deram lugar às armas de fogo, os cavalos foram substituídos pelos carros de combate, depois vieram os aviões, os mísseis e agora os drones.

Mas não existe guerra que se faça sem mulheres e homens e sem o sofrimento da população civil.

Por isso, as guerras reclamam vidas. Não só as vidas dos que sofrem o sacrifício maior, mas também parte da vida dos que, até ao fim dos seus dias, carregam as marcas físicas e psicológicas de terem sido expostos à desolação, à devastação, à destruição da frente de batalha.

Estes são os combatentes, cujo Dia também hoje assinalamos.

O que me permite passar para um segundo momento: o presente. Vivem entre nós muitos dos que passaram pelas guerras em África que marcaram os últimos anos do regime cujo fim chegou com o 25 de Abril.

Estes homens e as suas famílias não podem ser esquecidos. O passar do tempo, que já ultrapassa as cinco décadas, não pode votá-los ao esquecimento. À medida que as novas gerações se vão afastando daquilo que a partir de 1961 se passou em Angola, na Guiné e em Moçambique, é natural que a memória desses difíceis anos se vá desvanecendo.

É um dever de todos contrariar esta tendência. Pela minha parte, acreditem – e fala-vos um também ex-combatente –, não poupo esforços na defesa dos nossos combatentes e suas famílias. Porque é justo. E para que os decisores políticos, democraticamente escolhidos pela nossa comunidade, saibam que é necessário ir mais além na proteção e no apoio aos ex-combatentes.

Muito já foi feito através da aprovação e da concretização do Estatuto do Antigo Combatente. Os órgãos de Governo Próprio da nossa Região, que já procederam à adaptação deste Estatuto, também não têm estado parados nesta matéria, é certo.

Mas não baixemos a guarda, sejamos exigentes. O que os ex-combatentes deram à sua Pátria merece, principalmente em fases mais avançadas das suas vidas, que o Estado vá tão longe quanto possível no seu reconhecimento e na sua proteção.

Em particular quando, neste ano de 2025, parece que estamos novamente fadados a viver sob o peso da incerteza.

Minhas Senhoras e meus Senhores:

Caros Combatentes:

Olhemos, então, um pouco para o futuro.

De há muito tempo a esta parte, o conforto de viver no seio de alianças que todos considerávamos inabaláveis levou-nos – a nós, que vivemos no espaço europeu – a prestar menos atenção do que aquela que provavelmente deveríamos à nossa defesa coletiva.

E eis que a guerra na Ucrânia – onde diariamente se continuam a perder vidas – nos veio lembrar que o espectro do conflito não abandona a humanidade. Três anos de um confronto sem sentido – ao qual se juntam outros em diversos pontos do globo, com imagens às quais é difícil ficar indiferente.

Ora, esta realidade e as novidades geopolíticas que todos conhecemos obrigam-nos a refletir sobre a necessidade de podermos garantir a nossa própria segurança face às diversas ameaças que enfrentamos. E as decisões tomadas noutras capitais obrigam-nos mesmo a estarmos prontos para fazer face a tais ameaças.

Não tenhamos, todavia, dúvidas: a passagem da reflexão à prontidão obriga à tomada de decisões difíceis. O que pode parecer fácil no plano das intenções será, no plano das ações, exigente.

Competirá aos responsáveis, tanto a nível nacional como ao nível europeu, encontrar as melhores respostas para as perguntas que nos vamos colocando. Numa frase simples, creio que todos concordamos que a Europa há-de saber cuidar de si mesma. Mas como financiar estas obrigações? E, encontrado o financiamento, onde investir? E como coordenar os investimentos, para que não haja sobreposições ou fundos mal aplicados?

Como em todos os tempos de grande exigência, este é um momento que demanda o melhor de todos nós. Dos decisores, a quem se exige liderança; e dos povos, que não deixarão de ser afetados pelas opções a tomar.

Espero, portanto, que seja este o desígnio de todas as Nações, e lembrando aquele provérbio latino “si vis pacem, para bellum”, se queres a paz, prepara-te para a guerra, saibamos ter a coragem de, em conjunto com os nossos parceiros europeus, fazer o que for necessário para afastar qualquer ameaça e, com isso, levar a que cessem os tiros que hoje se fazem ouvir.

Sejamos militarmente fortes para podermos dissuadir!

E que tudo isto possa ser realizado sem prejudicar o Estado social é o meu desejo e a minha esperança

São estes os meus votos, os votos de Paz que deixo entre Combatentes e no dia em que recordamos uma batalha.

Viva a Paz!

Vivam os nossos Combatentes!

Viva a nossa Região Autónoma da Madeira! 

Viva Portugal!

Machico,9 de abril de 2025