Intervenção do Representante da República para a RAM por ocasião da Sessão Solene do Dia do Concelho do Porto Moniz

INTERVENÇÃO DO REPRESENTANTE DA REPÚBLICA PARA A REGIÃO AUTÓNOMA DA MADEIRA POR OCASIÃO DA SESSÃO SOLENE DO DIA DO CONCELHO DO PORTO MONIZ, NO DIA 22 DE JULHO DE 2024 

 

Começo por agradecer, Senhor Presidente da Câmara Municipal, o vosso amável convite para estar convosco neste Dia maior do Concelho do Porto Moniz. 

Há mais de 10 anos que V. Exas. me dão a honra de me quererem convosco nesta data e nesta sessão solene, e é sempre com imenso gosto que aqui venho. 

Porque, disse-o sempre, creio que todos os madeirenses têm com o Porto Moniz uma relação especial. 

Quando, antes das vias rápidas, túneis e viadutos, a Madeira era tão grande, para tantos de nós do tamanho de todo o nosso Mundo, chegar ao Porto Moniz era encontrar as férias, o verão, o ponto alto das voltas à ilha com a família. 

Pela beleza da paisagem. 

Pela riqueza do Mar e da Terra, na distância que vai do alto das montanhas do Fanal e do Paul ao fundo dos mares no calhau das Achadas da Cruz, nas piscinas da Vila e nas praias do Seixal. 

Pela imensa rede de levadas e de percursos de canyoning. 

Pela excelência da produção vitivinícola, desde as castas mais raras do Vinho Madeira até vinhos de mesa e espumantes de qualidade reconhecida. 

Notável, sobretudo, na riqueza das suas tradições e na resiliênciados seus filhos. 

E estar aqui é, portanto, também um gosto pessoal, pelo prazer renovado de voltar a lugares que me são familiares desde os dias felizes da infância. 

 

Minhas senhoras e meus senhores, 

 

Aqui estou, também, com um sentimento de dever porque creio que é também nestas celebrações que melhor se celebra a importância das autarquias locais, e dos municípios em particular. 

O sucesso do Poder Local e da Autonomia Regional, nascidos de Abril e defendidos pela Constituição da República Portuguesa, permitiram à nossa comunidade beneficiar, no espaço de poucos anos, de tantos e tão notáveis progressos. 

É justo reconhecer, nesta ocasião, o muito que foi feito pelas entidades públicas, Governo Regional, Câmara Municipal e Juntas de Freguesia.  

 Porque, neste ano em que se celebram os 50 anos do 25 de abril, os cidadãos do Porto Moniz estão também a comemorar os muitos benefícios que a Democracia e Liberdade nos trouxeram: 

- A água canalizada e a eletricidade para todos, as escolas e os centros de saúde, os lares de idosos e as acessibilidades viárias, os portos e os equipamentos turísticos; 

- E também a liberdade de expressão, de criticar e de se fazer ouvir, e a possibilidade de elegerem quem os represente e, em seu nome, tome as melhores opções para a comunidade. 

E ainda bem que tudo isto nos parece hoje garantido e banal, pois significa para as próximas gerações a certeza de um futuro com melhores condições asseguradas. 

O Porto Moniz é, desde há muito, uma bandeira turística consagrada da nossa Região Autónoma.  

Visitado, todos os dias do ano, por um número de turistas que ultrapassa, não raramente, a dimensão da população residente. 

Será, portanto, talvez o melhor local para refletir sobre a nova realidade turística da Região. 

E olhar para esse paradoxo que é, numa Região cuja principal preocupação é, há pelo menos dois séculos, conseguir atrair viajantes, muitos agora acharem apressadamente que temos visitantes em excesso. 

Não será possível replicar o perfil do turista de há 30 anos para o volume de visitantes que hoje recebemos. 

Também aqui o Mundo mudou, e hoje temos de perguntar o que podemos fazer para evitar a degradação da nossa terra e a saturação da nossa população, desde sempre tão hospitaleira. 

E, se me permitem uma pequena contribuição para o debate, penso que o desafio é simples: continuar a fazer bem o que sempre fizemos. 

Sempre soubemos que temos, na Madeira e no Porto Santo, duas joias raras. 

Que conseguimos proteger, na sua natureza, na sua cultura e tradições singulares, na cordialidade e hospitalidade do seu povo. 

Como protegemos a nossa Laurissilva e as nossas Reservas Naturais. 

E sabemos que a nossa obrigação é transmitir estas joias, intactas, para as gerações seguintes. 

Porque, se não o fizermos, perderemos a nossa alma e a nossa identidade, e perderemos, seguramente, o interesse de quem hoje nos quer visitar. 

A estratégia certa será agir sempre, e em todas as circunstâncias, para defesa da nossa integridade e da nossa autenticidade. 

Prevenindo os excessos, decorrentes de mau comportamento, ganância ou falta de planeamento, e garantindo a sustentabilidade da nossa casa comum e do nosso futuro como sociedade. 

Disciplinando o acesso aos pontos turísticos mais apetecíveis, criando soluções imaginativas e responsáveis, mas continuando a receber, com temos feito, com a gentileza e alegria, aqueles que nos visitam. 

Não podemos esquecer que, mesmo diversificando a nossa economia, o turismo será essencial para garantir o nosso bem-estar e o nosso futuro.  

O Porto Moniz é o concelho com menor população da nossa Região Autónoma, e o mais periférico da ilha da Madeira, porque mais distante dos grandes centros urbanos e das grandes infraestruturas públicas. 

Merece e justifica, portanto, uma particular atenção de todos os poderes públicos. 

Porque os problemas da periferia não acontecem só quando se interpõe o Atlântico ou o mar da Travessa entre quem pode decidir e as comunidades que precisam de soluções para os seus problemas quotidianos. 

Também há periferia quando as montanhas, a distância física e a exiguidade demográfica tornam os assuntos menos prioritários, os processos mais lentos e as decisões menos informadas. 

Aprovados que estão o programa de Governo e o novo orçamento da Região Autónoma, que espero assinar e mandar publicar dentro dias, depois das vicissitudes de todos conhecidas, é agora o momento de procurarmos a estabilidade necessária para servir a comunidade, como se exige a todos os poderes públicos, e relançar a confiança dos agentes económicos e da população em geral. 

Com a convicção de que estamos num contexto novo, que traz dificuldades, mas também cria novas oportunidades. 

O tempo complexo que vivemos obriga, a todos os níveis da intervenção política, à necessidade do diálogo e à procura de soluções negociadas. 

Embora nem sempre fácil, nem rápido, é um exercício que pode conduzir a uma de governação mais consensual e abrangente. 

Tenho, portanto, a expectativa e a esperança de que, também ao nível das relações entre o poder regional e o poder local, se consigam encontrar respostas novas para problemas antigos. 

É essa a responsabilidade dos eleitos, antes de mais as autarquias locais, sabendo-se da grande proximidade e conhecimento que têm das populações, passando pelo Governo Regional e, naquilo que lhes compete, também pelos órgãos de soberania. 

Porque, ainda que com naturais divergências pontuais, deve sempre prevalecer aquilo que une a atuação dos poderes públicos - o supremo interesse das populações que representam. 

 Que este esforço possa ser desenvolvido em prol do bem comum, sem constrangimentos de ganhos políticos imediatos, protagonismos pessoais ou calendários eleitorais, é o meu desejo. 

Hoje é dia do Concelho do Porto Moniz e dia de Festa. 

Dia da Festa de Santa Maria Madalena, a de maior devoção no concelho, conforme bem salientou nas suas obras o saudoso Professor João Adriano Ribeiro. 

E, por estes dias, com a sua semana do mar, Porto Moniz torna-se na referência maior das nossas ilhas. 

Por tudo isto, desejo ao Concelho do Porto Moniz os maiores sucessos, e aos seus habitantes, os que estão emigrados e os que aqui residem, uma excelente Festa de Santa Maria Madalena, seguida de uma magnífica Semana do Mar.  

Viva o Porto Moniz! 

Viva a Região Autónoma da Madeira! 

Viva Portugal!