Cerimónia de Comemoração do
Dia da Zona Militar da Madeira
Começo, portanto, por felicitar a Zona Militar da Madeira, cujo Dia da Unidade aqui celebramos. Congratulo-me igualmente com o facto de esta cerimónia ter lugar de uma forma duplamente descentralizada: aqui em Santana e fora dos quartéis.
Creio que, também por esta via, se ajuda a fortalecer os laços existentes entre as Forças Armadas e os Madeirenses e Porto-Santenses. É notório o prestígio de que os militares gozam junto da população civil, ao que não é alheia a disponibilidade dos militares em auxiliarem todos os que moram e visitam estas nossas ilhas.
Permitam-me, aliás, uma palavra particular de agradecimento para o Regimento de Guarnição n.º 3 que, como é sabido, por estes dias alberga os nossos compatriotas açorianos que se encontram na Madeira a receber tratamentos médicos após o incêndio no hospital de Ponta Delgada.
Como em tantas outras situações, muitas delas associadas a grandes danos humanos e materiais, o exemplo a que acabo de me referir demonstra bem quão frutuosa pode ser a cooperação entre militares e civis.
Tal interação permite a estes últimos compreender a necessidade de ter Forças Armadas operacionais. Por seu turno, os militares enriquecem a sua experiência fora dos meios castrenses, abrindo-se ao Mundo e tomando conhecimento concreto de realidades sociais.
Sobre esta abertura ao mundo, gostaria de sublinhar a riqueza trazida às Forças Armadas pelas mulheres que têm integrado as suas fileiras.
Os que, como eu, têm a vantagem da experiência adquirida pelos anos de vida, lembram bem o ano de 1961, em que a Força Aérea acolheu as primeiras seis enfermeiras paraquedistas. Muito se andou desde então e as mulheres representam hoje um pouco mais de 13% dos efetivos. O contínuo crescimento deste número é um bom sinal dos tempos que vivemos.
Minhas Senhoras e Meus Senhores,
A propósito dos tempos que vivemos, caberá aos historiadores, num futuro mais um menos distante, fazer um balanço desapaixonado do mesmo. Mas nós, que nos situamos neste presente, vemos à nossa volta o Mundo a transformar-se.
Somos parte de um Mundo em mudança. Por um lado, assistimos a grandes avanços científicos e tecnológicos, entre os quais avulta, mais recentemente, o uso cada vez mais acessível de ferramentas de inteligência artificial.
Porém, estas descobertas convivem com crises e riscos que parecem suceder-se, da crise financeira à crise pandémica, da guerra na Ucrânia ao recrudescer dos conflitos no Médio Oriente, sem esquecer a permanente ameaça terrorista e as tragédias humanas um pouco por todo o globo das quais vamos tendo notícias.
Pela sua posição geográfica virada ao Atlântico, Portugal encontra-se na intersecção de três áreas geográficas fundamentais: América do Norte, América do Sul e Norte de África. Não escolhemos esta geografia, mas cabe-nos aproveitar a mesma e assumir as responsabilidades que dela resultam.
É evidente a relevância geoestratégica do Arquipélago da Madeira e das águas soberanas que o mesmo acrescenta ao nosso País. As suas gentes, a sua economia, a sua riqueza em recursos e biodiversidade aí estão para o mostrar.
Esta vocação atlântica, que não prejudica o empenho no processo de construção da União Europeia, concretiza-se em matéria militar com a integração de Portugal na Organização do Tratado do Atlântico Norte.
Face às ameaças que impendem sobre os espaços internacionais em que nos inserimos – não só externas, mas também os desafios internos com que se deparam –, o contributo de Portugal para a segurança global e para a Paz passa, necessariamente, pelo cumprimento dos compromissos internacionais por si assumidos.
E estes tempos de metamorfose impõem, simultaneamente, capacidade de adaptação e alicerces bem fundados. Poderia parecer que estamos perante qualidades impossíveis de compatibilizar numa mesma entidade, mas julgo que as Forças Armadas nos provam o contrário.
Não são as Forças Armadas um exemplo de continuidade, estabilidade e coerência no exercício da sua missão? Mas não têm também as Forças Armadas demonstrado ser um exemplo de ajustamento ao devir dos tempos?
Não nos iludamos, todavia, com glórias passadas que não garantem sucessos futuros.
A concretização da relevância das Forças Armadas e do seu contributo para os desafios estratégicos colocados a Portugal e, em particular, à Região Autónoma da Madeira, demandam a criação de condições para que a vida militar seja atrativa para os nossos jovens.
Oficiais, sargentos, praças e trabalhadores civis merecem carreiras com perspetivas e condições para o desempenho das suas diversas missões. Aos recursos humanos há que somar os materiais e equipamentos, para que desta equação resultem umas Forças Armadas qualificadas, capacitadas e motivadas.
Penso ser esta a pedra de toque na discussão sobre o futuro dos nossos militares: a complexidade da sua missão não se compadece com soluções ad-hoc, de curto prazo ou eivadas de voluntarismo.
Numa palavra que procura resumir o meu raciocínio, a comunidade a que vós, militares, pertenceis exige – mas deve-o igualmente proporcionar – a existência de Forças Armadas profissionalizadas.
Minhas Senhoras e Meus Senhores,
Vou terminar com duas breves referências.
A primeira para agradecer o serviço que os homens e as mulheres da Zona Militar da Madeira têm, ao longo da história, prestado a estas ilhas e às suas gentes. Assim têm cumprido a vossa divisa: “Pela Honra e Pela Pátria”.
Finalmente, mais uma vez, felicito calorosamente a Zona Militar da Madeira, todos os seus militares e suas famílias pela passagem deste Dia.
Vivam as Forças Armadas!
Viva a Região Autónoma da Madeira!
Viva Portugal!
Santana, 21 de maio de 2024