Cerimónias Comemorativas |105.º Aniversário do Armistício da Grande Guerra | 49.º Aniversário do Fim da Guerra do Ultramar| 100.º Aniversário da Liga dos Combatentes

Cerimónia Comemorativa

105.º Aniversário do Armistício da Grande Guerra

49.º Aniversário do Fim da Guerra do Ultramar

100.º Aniversário da Liga dos Combatentes

Intervenção do Representante da República para a

Região Autónoma da Madeira

– 11 de novembro de 2023 –

  

Gostaria de começar por agradecer o convite que me foi dirigido pelo Núcleo do Funchal da Liga dos Combatentes para presidir a esta cerimónia.  

Ao promover esta cerimónia, andou muito bem o Núcleo do Funchal da Liga dos Combatentes. Saúdo esta luta contra o esquecimento a que o apressado ritmo de vida do século XXI convida, porquanto é importante lembrar o que fomos, para refletirmos sobre o que queremos vir a ser.

Neste contexto, quero sublinhar o trabalho do Núcleo na pessoa do Senhor Tenente-Coronel Bernardino Laureano, cujo trabalho merece ser reconhecido.

Aceite Senhor Tenente Coronel um muito obrigado de todos nós, antigos combatentes.

Nesta cerimónia invocamos três aniversários. Começamos por assinalar o Centésimo Quinto Aniversário do Armistício da Grande Guerra. Nesse dia 11 de novembro de 1918 cessavam as hostilidades daquela que, nos seus alvores, era idealisticamente apontada como a guerra que acabaria com todas as guerras. Sabemos agora quão ingénua era essa ideia.

Nunca uma guerra havia sido tão destrutiva e nenhuma outra havia cobrado um tão alto preço em vidas humanas.

Portugal pagou esse preço, não apenas nos campos da Flandres, nos quais o Corpo Expedicionário Português combateu, mas nos muitas vezes injustamente esquecidos cenários de Angola e Moçambique.

O Armistício que hoje celebramos acabou por conduzir à Paz assinada definitivamente em Versalhes, a qual, infelizmente, continha em si a semente de futuros conflitos.

De tal forma que a Grande Guerra se veio a transformar na Primeira Guerra Mundial, sendo seguida pela Segunda Guerra Mundial, a qual ultrapassou em horror o conflito de 1914-1918.

Num cenário que muitos julgávamos não ser já possível, os conflitos acesos voltaram ao solo europeu e aos territórios do Médio Oriente. Queria, assim, relembrar que de nada vale fazer a guerra se não se souber fazer a Paz.

E que, mesmo no mais aceso da guerra, há regras a respeitar e linhas vermelhas que não podem ser ultrapassadas; aí estão as Convenções de Genebra e o Estatuto do Tribunal Penal Internacional para o recordar.

Penso que assim sentem todos os Combatentes e ex-Combatentes, grupo em que me incluo. São estes que, fazendo a guerra, melhor a conhecem e diretamente se expõem aos seus perigos. São, por isso, também os Combatentes quem mais ama a Paz.

Não podemos esquecer que, por mais que a técnica avance, a guerra foi feita – e é feita – por homens e, crescentemente, por mulheres. Estes militares  podem hoje – e desde há 100 anos – contar com a sua Liga dos Combatentes, cujo aniversário também agora assinalamos.

Nascida inicialmente da necessidade de apoiar os portugueses que haviam combatido na Grande Guerra, muitos deles mutilados e com outras cicatrizes, e que poucos outros apoios sociais encontravam no seu regresso, a Liga dos Combatentes veio depois a acolher homens e mulheres de outras batalhas, em particular os que a partir dos anos 60 combateram na Guerra Colonial.

Tratando-se de uma pessoa coletiva de utilidade pública, bastaria atentarmos em alguns dos seus objetivos, nomeadamente a promoção do amor à Pátria, a defesa intransigente dos valores morais e históricos de Portugal, ou a promoção do auxílio mútuo e a defesa dos legítimos interesses dos seus sócios, para a Liga dos Combatentes já merecer o nosso louvor.

Mas é na sua atividade concreta, sobretudo nas estruturas de apoio médico, psicológico e social, que mais avultam os méritos da Liga dos Combatentes.

Por esta atividade, com impacto efetivo na vida dos seus sócios, a Liga é credora da admiração de todos.

Também agora comemoramos o Quadragésimo Nono Aniversário do Fim da Guerra do Ultramar. Filha da Revolução do 25 de Abril, a cessação dos conflitos que desde 1961 se desenrolavam em Angola, Guiné e Moçambique foi uma consequência de um dos três “Ds” prometidos pelos Capitães de Abril: “Descolonizar”.

Assim cessava uma presença colonial de séculos, hoje substituída por uma salutar comunhão entre pátrias e povos com fortes laços de união, a começar pela língua portuguesa em que todos nos exprimimos.

Comecei por referir que esta cerimónia, para além de uma comemoração, é também um exercício de memória. Relembramos três datas que o inexorável devir da história torna mais longínquas. Cabe-nos a nós, que habitamos este tempo presente, não deixar que esse afastamento se torne em esquecimento.

Naturalmente, já não se encontra vivo qualquer Combatente da Grande Guerra. Mas são muitos os ex-Combatentes do Ultramar que se encontram entre nós. Creio que a luta contra o esquecimento pode começar pelo devido reconhecimento destes homens.

É certo que algo tem sido feito nesta matéria, nomeadamente com a aprovação do Estatuto do Antigo Combatente, já justamente adaptado à nossa realidade regional. Elogie-se, portanto, o que deve ser enaltecido.

Mas algo haverá ainda por fazer para melhorar aquele Estatuto e outros aspetos.

 Lembro que tanto o Acréscimo Vitalício de Pensão como o Suplemento Especial de Pensão não ultrapassam os 170€ – e podem ficar aquém desse montante –, pagos uma vez por ano no mês de outubro. Repito, 170€ por ano.

Questiono-me: não seria possível ir mais longe? Faria isso perigar a estabilidade das finanças públicas? Estou convencido de que não.

Minhas Senhoras e meus Senhores,

Mesmo neste dia não poderia deixar de reconhecer e agradecer o esforço dos combatentes de hoje, os nossos militares no ativo, que contibuem para a paz e bem social, um pouco por todo o mundo, mas também na nossa Região, como se verificou nos recentes incêndios.

Nesses momentos difíceis, constatou-se os esforços conjugados de todos, elementos da Proteção Civil, bombeiros, forças de segurança, militares e população civil, para minimizarem os estragos causados pelas chamas. Merecem o nosso sentido e reconhecido obrigado e o desejo para que aqueles que sofreram prejuízos possam em breve superá-los.

Ter-me-ei alongado mais do que inicialmente previa. Relevem esta minha falha, mas esta é, ao fim e ao cabo, uma cerimónia que vale por três.

Três aniversários centrados nos nossos Combatentes. Há mais ou menos tempo, esses homens demonstraram a sua bravura, cumpriram o seu dever e merecem a nossa sentida homenagem.

A eles – e às suas famílias, que fraternamente saúdo – devemos a nossa gratidão.

Vivam os nossos Combatentes!

Viva a nossa Região Autónoma da Madeira!

Viva Portugal!