DISCURSO DO REPRESENTANTE DA REPÚBLICA PARA A REGIÃO AUTÓNOMA DA MADEIRA POR OCASIÃO DO DIA DO CONCELHO DE PONTA DO SOL, CELEBRADO A 8 DE SETEMBRO DE 2023
Gostaria de começar estas breves palavras por agradecer a V. Exa., Senhora Presidente da Câmara, o convite para, mais uma vez, voltar a esta terra que será sempre a minha, para convosco celebrar este Dia do Concelho da Ponta do Sol.
Como Representante da República, tenho, sempre que me é possível, respondido afirmativamente aos convites que os senhores autarcas me dirigem para partilhar os dias de festa dos Municípios desta Região Autónoma.
Faço-o por dever, procurando contribuir para a celebração deste Dia, mas sempre com imensa alegria, porque é na Festa de cada concelho que verdadeiramente se reflete o melhor da nossa Terra e o mais genuíno da nossa comunidade, nas pequenas especificidades locais que, somadas, constituem a identidade madeirense e porto-santense.
Permitam-me também saudar nesta ocasião, em particular, os filhos da Ponta do Sol que estão emigrados “por esse Mundo Além”, como diz o nosso hino, e entre os quais se incluem muitos familiares meus, que reencontro sempre com saudade.
Se saúdo aqueles que continuam emigrados, não esqueço os que, fruto de opções de vida ou empurrados pela instabilidade económica e social nos países de destino, já regressaram a estas ilhas.
Para uma Região que tem, ao longo dos anos, sofrido uma acentuada erosão demográfica decorrente da quebra de natalidade, o vosso regresso não será, nunca, nem um problema nem um incómodo, mas uma verdadeira oportunidade.
E, finalmente, saúdo todos os pontassolenses.
Orgulha-me dizer que sou um de vós e que, hoje, me sinto outra vez em casa.
Já o disse e volto a repetir: a sistemática subrepresentação das mulheres na política é mais que um problema de mera diversidade ou moda.
É uma verdadeira questão de qualidade e profundidade da Democracia.
Num momento em que as mulheres assumem posições de destaque em todas as áreas – das empresas à justiça, da saúde à universidade, do desporto à investigação científica –, muitas vezes em papéis de liderança, é inconcebível que seja o mundo da política, onde se decide o nosso futuro coletivo, o último reduto do poder masculino.
Bem sei que, na nossa Região e nosso País, como em todo o mundo democrático, não é fácil motivar e mobilizar mais mulheres para o exercício de cargos públicos, e que nem sempre os partidos políticos consideram prioritário esse esforço.
Tenho, porém, a certeza de que é com exemplos como o vosso, Senhora Presidente da Câmara da Ponta do Sol, que cada vez mais mulheres se sentirão despertas para darem o seu contributo à causa pública e nela encontrarão a sua realização pessoal.
E a nossa Comunidade deve sempre agradecer o vosso contributo pioneiro, como agora faço questão em fazer publicamente, englobando nesta saudação a senhora Presidente da Câmara da Calheta em exercício, Dra. Doroteia Leça.
A Ponta do Sol é o concelho do meu coração. Aqui nasci e vivi a minha infância. Daqui guardo as minhas primeiras recordações.
Não é preciso lembrar como tudo então era diferente, bem diferente. Aqui, como em toda a Região, aliás.
E, se mantenho gratas e indeléveis memórias desses tempos, sobretudo da Família e dos amigos de infância, não esqueço as dificuldades pelas quais tantos de nós passaram.
A luta pela subsistência, a dureza dos trabalhos agrícolas, o analfabetismo, a mortalidade infantil, a emigração como única solução para tantos.
Os desenvolvimentos dos últimos quase 50 anos, fruto da Democracia e da Autonomia política, são notáveis.
As infraestruturas, as condições socioeconómicas, a qualidade de vida em geral, tudo conheceu uma melhoria difícil de resumir em poucas palavras, mas que todos sentimos no dia a dia.
O Concelho da Ponta do Sol soube desenvolver-se com respeito pelo seu ambiente natural, pelo seu passado e pelas suas memórias, mas abrindo horizontes ao futuro.
Olhando para a sua tradição agrícola e rural, valorizando a identidade de cada uma das suas freguesias, mas assumindo-se como um ponto de encontro de cidadãos do Mundo e acolhendo as tendências culturais mais contemporâneas.
E temos todos de aceitar como natural que o devir do progresso é também fonte de mudanças imprevistas e, tantas vezes, indesejadas, que devemos enfrentar com serenidade.
A este propósito, saibamos saber conviver com os efeitos do crescimento do turismo, mesmo quando nos acarreta algum incómodo.
Estou a pensar, por exemplo, na emblemática Cascata dos Anjos.
Durante muitos anos foi, para os madeirenses e para os pontassolenses em particular, uma pequena curiosidade, um local onde se molhava o carro numa ida aos Anjos ou à Madalena do Mar.
Hoje, com o crescimento exponencial do turismo, a Cascata dos Anjos transformou-se num dos “ex-libris” do Concelho, suscitando a curiosidade dos que nos visitam, com filas de espera, exportada para todo o mundo em fotografia e filme, omnipresente nas listas das maiores atrações da Ilha.
E com isso, infelizmente, fonte de problemas de segurança aos quais urge responder. Para essa resposta, permito-me apelar a um consenso entre as instituições com competência para uma intervenção adequada, para bem da nossa Comunidade.
O desvio de habitações para o turismo ou o aumento do custo do imobiliário são outros problemas que afetam a nível global a nossa população e, em particular, os nossos jovens. É necessário continuar o investimento público para a resolução dessa dificuldade, já tão bem identificada, mas sem pôr em causa o turismo, que garante a subsistência de tantas famílias e tem contribuído para a modernização das nossas freguesias, vilas e cidades.
Temos todos, portanto, que nos habituar aos tempos em mudança.
Com inteligência, para equilibrar o respeito pelo passado com a vontade de aceitar os desafios do amanhã.
Com serenidade, distinguindo na intervenção dos poderes públicos o que é prioritário e essencial do que é ilusório e supérfluo.
E lembro a este propósito um dos nossos mais ilustres descendentes, John dos Passos, que escreveu em 1916, por entre o caos da Grande Guerra, que “o único substituto para a dependência do passado é a dependência do futuro”, numa afirmação de modernismo que se mantém totalmente atual.
Estamos em ano eleitoral. Uma vez mais, a nossa Comunidade será chamada a decidir o que pretende para o futuro, quais as prioridades e quais os protagonistas.
São hoje evidentes os imensos benefícios, a todos os níveis, que a Democracia e a Autonomia trouxeram à nossa terra.
A melhor forma que temos de preservar, garantir e defender essas conquistas é participarmos no processo democrático.
Apelo a todos os que têm o direito de votar que considerem que também têm o dever de o fazer, pois só assim poderão, com o seu voto, que é no fundo à sua arma, influenciar os destinos da nossa Terra.
Desejo aos cidadãos candidatos que possam, como sempre aconteceu, apresentar e debater, com moderação, equilíbrio e sentido de responsabilidade, as suas propostas, que definirão o rumo da nossa Região nos próximos anos.
E que, uma vez eleitos, tenham sempre claro o único propósito legítimo do exercício de cargos públicos - a defesa do supremo interesse das populações.
Celebrar o dia do concelho é, sempre, festejar aquilo que somos como comunidade e olhar para o futuro com esperança renovada.
Façamo-lo com a certeza que na Ponta do Sol se construiu uma terra onde se olha para o amanhã com a convicção de que o melhor ainda está para vir.
Parabéns a todos e desejo-vos um excelente dia do Concelho.
Viva a Ponta do Sol!
Viva a Madeira!
Viva Portugal!