Concurso Literário 2023

Cerimónia de Entrega de Prémios 

“CONCURSO LITERÁRIO 2023” 

Palácio de São Lourenço, Funchal 

 

 

Muito bem-vindos ao Palácio de São Lourenço e a esta cerimónia de atribuição dos prémios do Concurso Literário “Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas”. 

Desde o ano de 2013 que assinalamos desta forma o dia 10 de junho, procurando contribuir para que o mesmo não seja mais um feriado ou uma banal evocação.  

Ao invés, para que se constitua, em particular junto dos alunos dos ensinos básico, secundário ou profissional, numa celebração da nossa Pátria e do nosso Povo – independentemente do ponto do Globo em que nos encontremos –, representados na figura de Camões. 

As minhas primeiras palavras destinam-se, como não podia deixar de ser, precisamente a todos os que se apresentaram a concurso. Ano após ano, a qualidade dos trabalhos apresentados é assinalável, pelo que já não podemos dizer que seja surpreendente. Mas, não é por não ser uma novidade que a qualidade dos trabalhos não merece ser destacada. 

Caros Alunos, muito obrigado por terem aderido ao apelo lançado. Sois vós os destinatários e a razão de ser deste concurso. 

Creio que o esforço colocado na produção dos textos apresentados a concurso merece especial destaque se tivermos em conta que, na ainda curta experiência da vossa vida, tiveram já de ultrapassar as dificuldades colocadas por uma pandemia que nos fechou em casa e vos afastou do normal convívio escolar. 

E que, uma vez regressados a tal convívio, alguns de vós terão tido novos colegas oriundos da Ucrânia, memória presente da guerra que devasta a sua terra. 

Por que razão invoco, numa cerimónia que se quer de comemoração, dois episódios tão negativos? 

Primeiro, porque o tempo acelerado que vivemos, em que tudo nos convoca para uma nova distração, exige um esforço permanente para não esquecermos o que ainda há pouco aconteceu. 

Mas também para alertar para o facto de aquilo que, nas mais diversas esferas, damos por garantido pode, de um momento para o outro, alterar-se radicalmente.  

Precisamente as escolas podem estar a aproximar-se de uma encruzilhada suscetível de alterar radicalmente a sua vivência. 

Já no passado me referi ao papel das tecnologias no ensino. Na nossa Região, o Governo Regional tem vindo a fazer um investimento na modernização do ensino, sendo de aplaudir todas as medidas de adaptação ao mundo crescentemente digital em que vivemos. As salas do futuro e os manuais digitais são apenas dois exemplos do mencionado investimento. 

Não imaginam a alegria – e, por vezes, o espanto – com que eu, que, com a idade dos alunos aqui presentes, pouco mais conhecia que quadros de lousa, papel, lápis e canetas, vejo agora a destreza com que as gerações mais novas dominam os meios tecnológicos. 

Computadores, tablets, smartphones, smartwatches, tudo são instrumentos com uma presença já evidente no ensino. Ainda bem. 

Mas não esqueçamos os perigos que estão umbilicalmente ligados ao uso de meios digitais. Acima de tudo, não esqueçamos que aprender e ensinar são atividades humanas. 

Diz-se que uma das regras de qualquer discurso é não repetir o que já se disse. Mas perdoem-me o pecado de me citar a mim mesmo e recordar algumas das minhas palavras aquando da entrega deste prémio no ano de 2018. Afirmei, então, que o «Homem não pode ser dominado pela Inteligência Artificial». 

Estava longe de imaginar que, desde há meses, não há dia em que se olhe para as notícias e não apareça uma referência à chamada «inteligência artificial». 

Ora, as ferramentas de inteligência artificial de utilização livre, fácil e gratuita – a mais famosa será o Chat GPT – podem vir a revolucionar a vida nas escolas, sendo necessário o seu enquadramento com vista a uma utilização responsável.

Não sabemos os detalhes que o futuro nos reserva, mas podemos ter uma certeza alicerçada na História. Em todos os momentos da humanidade, independentemente daquela que era a tecnologia de ponta em cada uma das épocas, foram mais bem sucedidos aqueles que mais se esforçaram por compreender essas tecnologias. 

Não há avanço tecnológico capaz de superar o engenho, a empatia e a sensibilidade humanos, alicerces da nossa vida em sociedade. Mesmo a «inteligência artificial» mais não é que um fruto do génio humano. 

Por isso, em especial num tempo em que o uso das tecnologias parece empurrar-nos no sentido de todos estarmos na mesma posição face ao conhecimento – afinal, o conhecimento parece depender de meia dúzia de cliques –, não me canso de dizer que «saber é poder». 

Este não é um chavão vazio. São o estudo, o esforço, a luta por aprender que permitem aos alunos ir mais longe. Que permitem que cada um de vós – hoje aluno, amanhã o que quiserdes ser – se supere, que a cada dia dê um passo um pouco maior rumo ao seu futuro. 

Utilizo uma analogia desportiva. Um futebolista trabalha diariamente para rematar melhor à baliza. Não quer dizer que marque sempre golo, mas a cada jogo torna mais difícil a vida do guarda-redes. 

Também assim acontece com quem estuda. Os resultados que alcançamos podem nem sempre ser perfeitos, mas quanto mais estudamos, melhor compreendemos o Mundo. Quanto mais estudamos, mais ferramentas temos para nos ajudar a superar os obstáculos que nos vão aparecendo. 

Convoco apenas mais uma metáfora para sublinhar esta mensagem. Ao estudarmos, colocamo-nos aos ombros de gigantes, dos grandes pensadores, dos grandes cientistas, dos grandes poetas e escritores. E desse ponto mais alto, vemos mais longe. 

Creio que essa é uma das tarefas da escola: alargar os horizontes dos nossos alunos. 

Naturalmente, quando falo da escola, não me refiro apenas aos edifícios e ao espaço de recreio. É certo que a comunidade escolar merece um espaço físico acolhedor, adequado ao ensino e devidamente equipado. 

Mas não esqueçamos que, mais importante do que as paredes, são as pessoas que estão dentro das mesmas: discentes, pessoal não docente e docentes. Se temos bons alunos, devemo-lo, certamente, aos bons professores. 

Estou certo de que todos os presentes guardam memória de professores marcantes com que se cruzaram. Para além da nossa família e dos nossos amigos mais próximos, que outras pessoas têm um tão grande impacto na nossa vida

Ser professor não é, portanto, apenas mais uma profissão. Sendo trabalhadores, os professores merecem o reconhecimento de todos os seus direitos e a valorização do seu empenho. E isso obriga os responsáveis, como felizmente tem acontecido nesta Região, a ter atenção às condições de carreira e de progressão na mesma que são dadas aos professores. 

É necessário criar os incentivos para que os jovens de hoje queiram ser os professores de amanhã. Para que se entusiasmem a prosseguir os estudos nas áreas de pedagogia e contribuam para a continuidade e rejuvenescimento das profissões docentes. 

Como dizia, um professor não é apenas mais um trabalhador, mais um número a preencher nos quadros de pessoal. Na nossa sociedade, as famílias confiam as suas crianças e jovens à guarda dos professores. 

A sociedade solicita aos professores que assumam uma parte de leão na formação dos mais novos. Os professores cumprem. E, por isso, estes são credores da estima da comunidade. 

Saibamos, portanto, reconhecer a consideração que os professores nos merecem. 

Encaminho-me para o fim destas palavras de circunstância. Mas antes de anunciar os premiados, tenho de agradecer às pessoas e entidades que permitem que este concurso tenha lugar. 

Agradeço ao júri do concurso, composto pelos escritores Irene Lucília Mendes de Andrade e Agostinho Lídio Gonçalves Araújo e pela professora Anabela Abreu Pita. 

Agradeço a Sua Excelência o Secretário Regional de Educação, Ciência e Tecnologia, Dr. Jorge Carvalho e a todas as individualidades do Governo Regional que connosco colaboram. 

Agradeço ainda ao meu Gabinete, pelo empenho que todos os anos dedica a este projeto. 

Devo ainda uma especial palavra de agradecimento à minha mulher, Carla Ferreira Barreto. Sem o seu impulso não estaríamos aqui. Já publicamente confessei, com o maior gosto, que a realização deste concurso resultada de uma ideia e do empenho da minha mulher. Também por isso lhe estou profundamente grato. 

Muito obrigado a todos. 

Renovo os votos de agradecimento que formulei no início. Nem todos saem premiados desta sessão, mas todos saem valorizados na sua experiência. Que não haja qualquer desânimo. Basta recordar que até a autora J.K. Rowling, autora da famosíssima série Harry Potter, viu o seu trabalho recusado por doze editoras. E, entretanto, já vendeu mais de 600 milhões de livros. 

Funchal, 3 de junho 2023