Cerimónia de entrega de prémios do Concurso Literário

Cerimónia de entrega de prémios do Concurso Literário

“DIA DE CAMÕES DE PORTUGAL E DAS COMUNIDADES PORTUGUESAS”

2022

Muito bem-vindos à cerimónia de atribuição do Prémio Literário que, anualmente, distingue os trabalhos dos nossos jovens que aceitam este desafio da escrita em língua portuguesa.

É com particular satisfação que aqui nos encontramos após tempos tão conturbados que obrigaram a recolhimento forçado e outras privações que não preciso recordar.

Esta ocasião é, por isso também, um marco do nosso regresso a uma vida coletiva na normalidade possível, que doravante será provavelmente sempre convivente com problemas aos quais vínhamos há muito sendo poupados.

Aliás, por falar em problemas a que há muito vínhamos sendo poupados, não posso deixar passar esta ocasião sem um voto de solidariedade e amizade ao povo ucraniano, ao qual junto um vivo repúdio pela guerra que lhe está a ser movida pela Rússia.

Os meus votos são para o mais pronto restabelecimento da paz na Ucrânia e entendimento na Europa e no Mundo, e para a reunião das condições para o regresso dos nossos amigos ucranianos às suas casas, famílias e ocupações.

Este conflito mostra a importância de nos conhecermos melhor uns aos outros, de criar pontes culturais, de nos colocarmos na posição do Outro e de sermos inteligentes na análise da informação que nos é transmitida.

Ora bem, o conhecimento e o manuseio da língua são essenciais para tais desideratos. Língua é cultura; é comunicação; é empatia.

Apenas três trabalhos serão premiados, é certo, mas este concurso homenageia o empenho de todos os concorrentes.

Na realidade, esta efeméride só é possível porque todos vós, jovens autores, se dispuseram a participar, independentemente do resultado, o que quer dizer que valorizaram mais o esforço e a participação do que o prémio.

Estão, na realidade, todos de parabéns, pois todos participaram, todos evoluíram com esta experiência.

A língua portuguesa é a nossa pátria, afirmava-o Fernando Pessoa, e dela “vê-se o mar”, já o dizia Vergílio Ferreira.

Mas da nossa língua vê-se também a esperança na vossa geração, da qual tanto nos orgulhamos. Precisamos de novas visões para o Mundo, pois é claro que muitas das que têm ditado os nossos caminhos já não nos conduzem no melhor dos sentidos.

Este concurso literário insere-se nas comemorações do 10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, e constitui uma celebração da cultura portuguesa, da qual a língua é umas das maiores expressões.

É uma grande satisfação apreciar o vosso talento, o vosso domínio da língua e o modo como a colocam ao serviço da criatividade. As duas coisas são fundamentais e potenciam-se mutuamente: a imaginação impulsiona a escrita e esta por sua vez, na sua dinâmica própria e pessoal, motiva a criatividade.

Mas o talento deve muito ao esforço. Ninguém nasce preparado. É preciso empenho para acelerar as capacidades de cada um e trabalho para as levar a bom porto.

Se têm um sonho, nunca desistam. Insistam. Insistam mesmo quando achem que não é possível, até porque dessa insistência podem vir outros sonhos que não imaginaram antes.

A escola é justamente um lugar para a criatividade e para a superação. Os resultados, as notas são muito importantes, mas é também de absoluta relevância o espaço e o tempo que a escola vos proporciona para idealizarem o Mundo antes da idade adulta.

Em tudo isto, os vossos professores têm um papel essencial e insubstituível.

Permitam-me, aliás, uma palavra mais detida aos professores.

Ser professor está entre as profissões mais determinantes em qualquer sociedade. Os professores orientam-vos e guiam-vos ao longo de uma parte essencial das vossas vidas.

Os professores estão lá naquela fase da vossa vida em que as grandes experiências moldam para sempre as vossas mentes. Os professores estão lá quando os grandes valores e princípios vão sendo interiorizados.

Os professores deixarão em vós memórias profundas, ensinamentos preciosos. Os professores acompanham o vosso crescimento como pessoas. E determinam uma boa parte dele.

Uma sociedade que não valoriza e não acarinha os seus professores é uma sociedade ingrata e inculta, porque revela não perceber a importância do futuro.

Ao longo dos anos temos assistido a uma degradação progressiva da profissão de professor.

Face ao elevado número de professores que, nos próximos anos, atingirão a idade de aposentação, devemos sublinhar o quão importante é assegurar a renovação dos quadros docentes numa ótica de valorização da profissão, através de um quadro de docentes com sólida formação e competência científica e profissional, preparado para educar jovens para um mundo competitivo, moderno, global, mas também solidário e humanista.

Tal não se alcançará sem um investimento na atratividade da carreira, seja pela via das condições profissionais e salariais seja pela sua respeitabilidade social e reconhecimento.

Só nesta linha os melhores se sentirão motivados para esta profissão nobre e essencial.

É conhecida a asserção de que o nível de civilização de uma sociedade se afere pelo modo como trata os seus professores. Não queiramos ser uma geração que fica para a história do País como destruidora da classe profissional dos professores. Não queiramos ser a geração que esqueceu o futuro dos nossos jovens.

A batalha pela dignidade dos professores, porém, não é a única que importa travar no âmbito escolar.

Recentemente, temos tido também notícia de muitas situações de burnout, tanto de professores como de alunos. Os números são alarmantes. Isto é tão preocupante como inaceitável. Sendo a escola um lugar de aprendizagem e de ensino, o stress não pode ser uma das suas tónicas ou características.

Temos de ser céleres a perceber o que está mal, ouvindo com disponibilidade toda a comunidade escolar, e alterando o que for preciso para sairmos dessa situação. A escola deve ajudar a construir pessoas, e não contribuir ou ser mesmo um elemento determinante para as destruir.   

A educação comporta, porém, múltiplos outros desafios. A leitura é um deles.

Na sociedade portuguesa lê-se pouco. Sabemo-lo por comparação de índices vários com outros países, designadamente, pelos números da compra de livros. Relatórios recentemente divulgados sobre a aferição de competências dos alunos destacam os domínios da leitura e da educação literária como de particular fragilidade, configurando-se a prática de leitura – literária e não literária – na escola uma estratégia indispensável para o desenvolvimento da competência de interpretação.

E se é certo que hoje o digital constitui uma alternativa aos livros tradicionais em papel, o papel tem o seu encanto e a sua história, como nos conta Irene Vallejo no seu famoso livro “O Infinito num Junco”, cuja leitura a todos recomendo. Para além da história dos livros, aí encontrarão estudados aspetos tão interessantes e importantes como o acesso à leitura como instrumento de igualdade, designadamente entre homens e mulheres, pois ao longo de séculos as mulheres foram afastadas da literatura, da escrita e dos livros.

Seja em papel, seja em formato digital, leiam. Utilizem os vossos smartphones, os vossos tablets e os vossos computadores para mais do que comunicar e jogar. Eles são janelas para mundo. Hoje não há livro ao qual não se consiga aceder digitalmente de forma legítima, sobretudo os grandes clássicos, que têm um encanto que só lendo passa para nós. 

Atualmente, dispomos – é certo — de instrumentos tecnológicos ao serviço da educação com os quais não contávamos no passado. Terá sido esta, porventura, uma consequência positiva da pandemia, que tão rapidamente nos motivou a procurar novas soluções para o ensino à distância e permitiu aperfeiçoar outras que ainda não tinham uma utilização corrente.

Ao saudar e aplaudir o esforço do Governo Regional na transição digital dos manuais escolares, desejo que saibamos extrair deles o que têm de efetivamente útil, combinando-os com métodos clássicos com resultados comprovados. Nomeadamente, que não haja a tentação de substituir professores por tecnologia, dispensando ou aliviando o ensino presencial, pois ele é essencial para desenvolver capacidades de apreciação crítica autónoma nas nossas crianças e jovens e, sobretudo, não é possível isentar a educação do humanismo dos seus educadores. O afeto, só possível pelo contacto humano, é um elemento essencial para a formação e educação.

Caros Alunos,

Os trabalhos que apresentaram a concurso são todos dignos de louvor, mas nem todos podem vencer. Assim, este ano, são os seguintes os premiados:

1º. Prémio –

Patrícia Alexandra Tomás Abreu, aluna do 11.º Ano da Escola Secundária Jaime Moniz;

2.º Prémio - Tomás Aguiar Correia, aluno do 9.º Ano da Escola Bartolomeu Perestrelo;

3.º Prémio - Maria Victória de Abreu Antunes, aluna do 9.º Ano da Escola Bartolomeu Perestrelo;

Menção Honrosa - Alexandre Guilherme Rodrigues Almeida Silva, aluno do 12.º Ano da Escola Secundária de Francisco Franco.

Parabéns pelo vosso trabalho e pelo vosso prémio!

Quero, ainda, agradecer a várias entidades sem as quais este concurso não teria lugar. 

Ao júri do concurso, composto pelos escritores Ireneu Lucília Mendes Andrade e Agostino Lício Gonçalves Araújo e pela Dra. Anabela Nóbrega Coelho Abreu Pita.

A Sua Excelência o Secretário Regional de Educação, Ciência e Tecnologia, Dr. Jorge Carvalho e a todas as individualidades do Governo Regional que connosco colaboram.

Ao meu Gabinete, pelo empenho que todos os anos dedica a este projeto.

E por fim, uma palavra especial e pública à pessoa que esteve na origem desta iniciativa: Carla Ferreira Barreto, minha mulher, também ela professora.

Esta iniciativa, afirmo-o com gosto, deve-se a uma ideia e empenho seu, pela qual lhe estou profundamente grato.

Muito obrigado a todos!