Intervenção do Representante da República por ocasião da deslocação à RAM do Vice-Primeiro-Ministro da República da Hungria a 31 de março de 2022

 

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Sede bem-vindos à Região Autónoma da Madeira.

É uma honra e um privilégio, para a minha mulher e para mim, receber-vos, nesta singular oportunidade em que se evoca o primeiro centenário da morte do nosso querido Beato Carlos, Imperador da Áustria e Rei da Hungria.

Primeiro com curiosidade, depois com fascínio, finalmente com devoção, os madeirenses acompanharam, durante a sua estadia, a vida do Beato e da sua família, e choraram profundamente a sua morte. 

E a devoção que ganharam ao Imperador Carlos não veio do seu poder, que já não o tinha, nem de qualquer ostentação, que nunca aqui mostrou, mas do seu exemplo de defensor de paz, de homem de família e da sua profunda fé cristã. 

Por isso ganhou a fama de santidade que a sua morte jovem fez crescer, e que, desde então, vive nas gerações de madeirenses.

E nestes tempos de chumbo, onde o egoísmo campeia e os valores da liberdade, da fraternidade, da tolerância, do diálogo, do respeito pelo Outro são ameaçados, permitam-me que coloque o acento tónico no pensamento e na ação do Beato Carlos, que tanto se esforçou para colocar pôr termo à primeira Guerra Mundial.

No seu Manifesto ao assumir o trono, o Imperador Carlos afirmou:

“Farei tudo o que está em meu poder para banir os horrores e sacrifícios da guerra o mais breve possível e restituir aos meus povos a dolorosamente perdida bênção da paz”.

E lembro as palavras do Santo Papa João Paulo II, na cerimónia de Beatificação do Imperador Carlos, em 2004:

“Que ele constitua um exemplo para todos nós, sobretudo para aqueles que hoje ocupam lugares de responsabilidade política na Europa!" 

Sim: que o seu exemplo de amor ao próximo e os seus esforços para alcançar a paz no decurso da Iª Guerra Mundial possam, no atual contexto, constituir incentivo e inspiração para todos os que lutam para pôr termo à guerra que hoje assola a Europa, causando sofrimento e morte num grau de atrocidade que julgávamos irrepetíveis no nosso Continente.

E, ao assistirmos à separação forçada e sofrida das famílias vítimas da atual guerra, é impossível não recordar a idêntica situação penosa vivida pelo Beato Carlos e sua esposa, a Imperatriz Zita, que chegaram à Madeira sem os seus filhos, retidos na Suíça.

Ao evocar essa notável mulher de coragem, a Imperatriz Zita, descendente de um dos Reis de Portugal, permitam-me uma saudação especial aos Representantes da nobre família Habsburgo e ao sobrinho-neto da Imperatriz Zita, D. Duarte de Bragança, assim como a Senhora sua esposa,com profundas ligações à nossa ilha.

Gostava de, neste momento, transmitir a Vossas. Excelências a honra, para minha mulher e para mim, de podermos recebê-los e desejar uma frutuosa estadia na minha terra.

A história é um repositório de saberes e de experiências, permitindo-nos compreender o presente e a perspetivar o futuro.

Numa época de crises e desencantos, que estas comemorações possam ser um contributo para que os valores inerentes à nossa condição humana, a paz entre os povos e o respeito pela sua dignidade, fundamento maior de todos os direitos humanos, venham a ganhar de novo o protagonismo essencial e redentor que se exige para uma sã convivência democrática entre as Nações.

Que estas comemorações possam contribuir para o processo de canonização do nosso Beato e sejam também um repositório de esperança de que a paz na Europa volte a ser a referência que nos distingue no respeito pela diversidade e multiplicidade das crenças e culturas.

Desejo-vos uma excelente comemoração do centenário. 

Muito obrigado.