Cerimónia de inauguração do monumento em Homenagem aos Combatentes do Concelho da Calheta na Guerra do Ultramar

Cerimónia de inauguração do monumento em Homenagem aos Combatentes do Concelho da Calheta na Guerra do Ultramar

 

Na História de todos os povos e comunidades, há silêncios inexplicáveis, memórias por assinalar sem que para tal se encontre justificação.

Sempre chega, porém, o momento de quebrar esses silêncios, preencher esses hiatos com a justa homenagem aos que disso são plenamente merecedores, mas que, por razões tantas vezes insondáveis, não são devidamente recordados.

Hoje, concretizando um desses momentos, prestamos homenagem aos antigos combatentes do concelho da Calheta na Guerra do Ultramar.

 Os combatentes são um exemplo para todos nós e devem ser apontados às gerações futuras como modelo pelo que representam de altruísmo, de coragem, de espírito de sacrifício, de abnegação e de devoção aos valores superiores da nossa Pátria.

As Forças Armadas, hoje como no passado, sempre disseram presente quando foram solicitadas.

Sem reservas ou preconceitos, consagraram tanto das suas vidas, muitas vezes até a própria vida, no campo da honra mesmo quando sentiam que estavam a combater numa guerra sem fim e sem futuro.

E, na Guerra do Ultramar, caíram muitos dos nossos camaradas, de que vós, membros da Liga dos Combatentes, sois os lídimos representantes.

A Guerra do Ultramar foi o último conflito de grande escala que implicou todos os Ramos das nossas Forças Armadas e que envolveu o nosso País como um todo num ambiente de guerra.

  Noventa por cento dos nossos jovens foram mobilizados para um papel que tantos não aceitavam ou não compreendiam sequer.

  Cerca de 10 mil mortos e o dobro em incapacitados permanentes, foi o custo mais grave — mas não o único — desses anos de chumbo.

  Não há, pois, maior justiça do que homenagear esses Combatentes, e hoje, em particular, os do Concelho da Calheta.

Respondemos assim  a um imperativo de justiça ditado pela gratidão e o profundo respeito que nos merecem.

  Assumimos também a gratidão de um país que conseguiu recuperar a sua dignidade no Mundo e no contexto do que é hoje a CPLP, depois de um conflito daquela natureza.

A energia e a resiliência dos ex-combatentes em muito nos ajudaram a recuperar relações de amizade e fraternidade que poderiam ter-se perdido para sempre.

  Homenageando os Antigos Combatentes, todos eles, vivos e falecidos, bem como as suas famílias, selamos o laço que nos une.

Mas é sempre importante expressá-lo ciclicamente, para o renovar, e também para que as gerações futuras compreendam, conheçam e respeitem a nossa História.

Não posso terminar sem felicitar a Câmara Municipal da Calheta, na pessoa do seu Presidente Carlos Teles, por mais esta iniciativa – (não esqueço aquela que já perpetua a memória do Alferes Gabriel Rocha de Gouveia, no Arco da Calheta).

Gostaria de salientar ainda o papel da Liga dos Combatentes, na defesa dos seus membros, na luta insana na prossecução das suas aspirações, personificada a nível regional pelo Tenente Coronel Bernardino Laureano.

  Ao longo dos anos, aqui na Madeira, a Liga dos Combatentes tem tido um papel determinante no realce da importância das Forças Armadas — sobretudo, da sua importância histórica e do papel dos ex-combatentes.

Confesso que me emocionei aquando do desfile nas Comemorações do 10 de junho com o garbo dos antigos combatentes sob o Comando deste oficial, um desfile que reuniu três gerações, pois ali também se encontravam, sob as ordens do Tenente Amaral, militares madeirenses que regressaram recentemente de uma missão de paz em Cabul, Afeganistão.

Esta sucessão geracional enche-nos de esperança.

  Hoje, são diferentes os teatros de operações em que as nossas Forças Armadas são chamadas a intervir, mais contidos, cirúrgicos e humanitariamente complexos.

  E, se são distintos os conhecimentos e meios tecnológicos ao dispor das Forças Armadas, são os mesmos os seus valores, o seu empenho e a sua motivação.

Sempre fomos um Povo que continua a orgulhar-se das Forças Armadas que, nos dias de hoje, em missões de Paz no exterior, prestigiam o nosso País. 

E, se elas merecem o maior respeito e admiração nessa luta, um pouco por todo o Mundo, pela liberdade, pela paz e pela dignificação da pessoa humana, outro tanto ou mais lhes devemos pelo que têm feito a nível interno, com elevada prontidão e competência, nos diversos campos em que são chamados a agir, e de que o combate à pandemia é o exemplo mais forte.

Pela minha parte, acrescento ainda o agradecimento profundo por toda a colaboração que obtive durante a execução do estado de emergência aqui na Região, que foi um período de enorme exigência para todos os madeirenses e porto-santenses, mas também para todas as instituições.

Curvando-me perante todos eles, nossos Heróis, direí:

Ditosa Pátria que tais filhos tem!

Calheta, 17 de junho de 2021