Mensagem do Representante da República para a RAM no Dia do Combatente e do 103º. Aniversário da Batalha de La Lys

Mensagem do Representante da República para a RAM no Dia do Combatente e do 103º. Aniversário da Batalha de La Lys

 

Agradeço à Liga dos Combatentes o convite, que muito me honra, para presidir às Cerimónias Comemorativas do Dia do Combatente e do 103º. Aniversário da Batalha de La Lys.

É muito reconfortante ver como a Madeira nunca esquece estes momentos da nossa História.

Gostaria, em primeiro lugar, de sublinhar e agradecer, publicamente, o papel do Núcleo do Funchal da Liga dos Combatentes, no apoio que presta aos nossos antigos combatentes e o empenho que sempre coloca em assinalar estas datas, dando um contributo inigualável para que as mesmas não sejam esquecidas.

A I Grande Guerra constituiu um período surpreendente da História Universal.

Talvez tenha mesmo marcado um momento de transição, de uma certa ingenuidade bélica para o despertar da crueldade massificada.

Não que o Homem se tenha feito mais cruel de um dia para o outro ou de um ano para o outro — a Antropologia poderá dizê-lo com mais rigor.

Só que não se dispunha até então de meios que permitissem, pura e simplesmente, atingir números aflitivos de baixas, que se elevaram a cerca de 20 milhões.

Este elevadíssimo número ficou a dever-se, essencialmente, aos novos tipos de armamento utilizado, produto da industrialização que caracterizou o século XIX que há pouco findara.

Maravilhada pela tecnologia bélica – da metralhadora, ao canhão de grande alcance e ao tanque Mark I, passando pelas armas químicas -, a Humanidade continuava a enviar os seus homens para as frentes de batalha, como se estas ainda se travassem à antiga.

Rapidamente, os combatentes se apercebiam de que a realidade que os aguardava era bem diferente das imagens dos conflitos tradicionais.

Todo este potencial bélico fez da Primeira Grande Guerra um período em que a Humanidade se surpreendeu a si mesma com as consequências brutais da tecnologia e, em particular, da sua aplicação ao contexto bélico.

A Primeira Guerra Mundial também tocou a Madeira.

O Funchal, a Horta e Ponta Delgada foram as únicas cidades portuguesas bombardeadas no Século XX, pelas forças submarinas alemãs, e os madeirenses mortos nessas ocasiões as únicas vítimas civis em território português do Primeiro Conflito Mundial.

Hoje relembramos, em especial, a ação do Corpo Expedicionário Português na I Grande Guerra e em particular na famosa Batalha de La Lys, na qual os nossos soldados tiveram um importantíssimo papel no atraso do exército alemão.

Os nossos militares contavam ser rendidos por tropas inglesas, após cinco meses de entrincheiramento, mas assim não aconteceu. Tiveram que transformar a sua insuficiente preparação e o seu deficiente equipamento em força e valentia, o que só os bravos conseguem.

A Madeira tem mantido viva a chama da sua gratidão para com os seus filhos que tombaram na defesa da Pátria, prestando-lhes tributo de diferentes modos, como o monumento no Terreiro da Luta, e outros memoriais e ruas com nome dos madeirenses sacrificados nos campos de batalha.

Recentemente, de alguns lados, surgiram reservas ao modo como os nossos homens se bateram em África durante a guerra colonial.

Não é este o lugar nem o tempo para abordar em profundidade esse tema, mas de sustentar que, se não há guerras limpas, sem danos colaterais, os nossos militares honraram abnegadamente a Pátria no campo de batalha, merecendo o respeito, a gratidão e o reconhecimento nacional.

Isso mesmo foi justamente consagrado com a aprovação do Estatuto do Antigo Combatente (aprovado pela Lei n.º 46/2020, de 20 de agosto).

A concretização desse Estatuto, transversal a todo o território nacional, precisa do empenho de todas as autoridades nacionais e regionais, através de instrumentos próprios que definam o conteúdo dos apoios ali consagrados para os antigos combatentes e suas viúvas e viúvos.

É esse o meu apelo às autoridades regionais: para que os benefícios consagrados no referido Estatuto para os antigos combatentes e respetivas famílias ganhem expressão o mais rapidamente possível.

E nesse esforço, por imperativo de consciência, podem contar com o apoio de um antigo combatente, o deste Representante da República.

Funchal, 9 de abril de 2021

Ireneu Cabral Barreto