Prémio literário
2019
A todos dou as boas-vindas a esta cerimónia de atribuição do Prémio Literário que, anualmente, distingue os trabalhos dos nossos jovens que ousam aventurar-se no exercício da escrita em língua portuguesa.
Muito embora apenas três trabalhos sejam premiados, esta ocasião celebra o empenho de todos os concorrentes. E é bom dizê-lo desde já, pois não se trata de uma mera palavra de conforto.
Na realidade, esta efeméride só é possível porque todos vós, jovens autores, se dispuseram a participar, independentemente do resultado, o que quer dizer que valorizaram mais o esforço e a participação do que o prémio.
Todos vós crescestes interiormente ao longo do processo da escrita. E por isso estão todos de parabéns.
A nossa língua — a língua portuguesa — não é apenas um meio pelo qual expressamos o que pensamos e sentimos. Na realidade, pensamos em português; e sentimos em português.
Por isso, a língua portuguesa é a nossa pátria, como dizia Fernando Pessoa, mas é também o nosso mundo.
“Da minha língua vê-se o mar” — dizia Vergílio Ferreira.
Da nossa língua — acrescentaria eu — vê-se a esperança nesta geração que hoje nos brinda com a alegria do seu esforço, e com a renovada irreverência de Camões.
Este prémio literário surge no contexto das comemorações do 10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.
Trata-se de uma celebração da cultura portuguesa, da qual a língua é, evidentemente, umas das mais fortes expressões.
Não basta, no entanto, o encantamento pela língua na admiração da obra alheia, por genial que esta seja. É preciso, também, praticá-la, experimentá-la, testá-la, fazê-la de todos e de cada um, e não apenas através da leitura — mas muito através da escrita.
Mas o talento deve muito ao esforço.
Podemos nascer e ir crescendo com certos inatismos que nos potenciam neste ou naquele sentido; mas o talento só produz resultados quando cuidamos dele através da energia que lhe dedicamos, do trabalho com que o honramos e cultivamos.
E isto mesmo é uma garantia e uma esperança, simultaneamente.
Uma garantia de que, se aperfeiçoarmos o nosso talento com trabalho, chegaremos mais longe do que achávamos possível.
E a esperança de que, mesmo quando achamos que o nosso talento não é enorme, com trabalho podemos compensá-lo, e chegar ainda mais longe do que nos diziam que conseguiríamos.
Nunca desistir: essa é a lição da vida, e tão válida, caros Alunos, que todos nós adultos a podemos confirmar, qualquer que seja o nosso percurso de vida.
Não posso, pois, deixar passar esta ocasião sem uma palavra a respeito da educação (e não apenas da língua, ou do ensino do Português).
A escola, de qualidade e acessível a todos os portugueses, é uma das principais conquistas do 25 de Abril, a par dos direitos de liberdade e do sistema nacional de saúde.
Falo de um dos principais elementos impulsionadores da igualdade entre os portugueses, que levou a que todos, independentemente das suas origens, conseguissem aceder ao ensino universitário e depois à concretização das suas mais diversas aspirações — algo que antes de 1974 não era possível.
Diga-se que essa batalha não está ainda definitivamente ganha, pois sabemos que as condições socioeconómicas das famílias são determinantes, não apenas do sucesso escolar, mas do próprio acesso à escola, sobretudo nos ciclos de estudos mais adiantados.
Aliás, reduzir ao mínimo o nível de abandono escolar mantém-se como um desafio; e o acesso à universidade sobretudo num período em que os custos circundantes do próprio ensino — como a habitação — são muito elevados continua a ser preocupante.
A aprendizagem é também uma condição de liberdade.
E os desafios são imensos: todos temos consciência de que os conhecimentos mínimos exigíveis para que saibamos orientar-nos nas enormes complexidades do mundo moderno são muito mais vastos do que outrora.
No mundo da internet, das plataformas digitais, do cloud computing, ou das intervenções cirúrgicas altamente computorizadas, já não basta o que a escola até há pouco tempo ministrava.
Impõe-se, portanto, uma mudança de paradigma.
Este é um desafio, mas que vamos ganhar; que temos de ganhar com a ajuda decisiva dos professores.
Da importância da sua função, todos temos consciência, ainda que por vezes de um modo relativamente abstrato.
Mas nem sempre nos comportamos de acordo com essa consciência, talvez porque a mesma precise de ser complementada com outra: a do esforço dos professores.
Trata-se de uma das profissões mais desgastantes, obrigando a um contacto de alta intensidade com jovens incrivelmente enérgicos; uma profissão com obrigações de resultado e, ao contrário do que muitos dizem, em permanente avaliação.
O nível de esforço físico e psicológico desta profissão, para além da dimensão do conhecimento, obriga-nos a um profundo sentimento de respeito e admiração, que não podia deixar de manifestar aqui perante todos vós.
Os professores têm um papel fundamental, em constante renovação, dada a exponencial circulação de informação oferecida aos nossos jovens, as mais das vezes sem controlo quanto à veracidade e qualidade dos conteúdos.
Perante fake news e dados não comprovados, passando pela superficialidade da informação na Internet de fácil acesso, os professores dão um contributo inestimável para que os nossos jovens aprendam a filtrar o que lhes chega e o que encontram.
Num ano repleto de atos eleitorais, devemos estar particularmente atentos a estas realidades.
Os jovens, mesmo os que ainda não votam, devem começar a interessar-se verdadeiramente pela res publica, para que, no momento próprio, possam realizar as suas escolhas, com capacidade crítica.
Eles fazem perguntas e merecem respostas ponderadas nestes tempos de incertezas e de extremismos.
Com efeito, vivemos num tempo particularmente vulnerável aos chamados “populismos”.
Todos sabemos que a relação entre os políticos e as pessoas pode ser feita com recurso a formas de relacionamento mais directas como, por exemplo, através da utilização das redes sociais.
Mas é justamente aqui que os populismos podem tornar-se perigosos quando utilizam esses instrumentos para apelarem a valores de exclusão e de violência, incompatíveis com o ideário dos direitos humanos e de um Estado de direito democrático.
É muito importante que os nossos jovens estejam preparados para esse contacto, de modo a não cederem facilmente a argumentos apelativos mas errados, baseados em informação falsa ou em cenários ilusórios.
Isto porque o desafio com que os nossos jovens se confrontam é “global, complexo, exigente, na diversidade dos fatores de que depende e do prazo alargado que envolve”, como sublinhou Sua Excelência o Presidente da República no seu discurso no último dia 25 de abril.
Com efeito, serão eles que enfrentarão a resolução dos problemas como o envelhecimento demográfico, as desigualdades na repartição da riqueza, as migrações, a sustentabilidade do planeta e as alterações climáticas, a revolução tecnológica galopante e a consequente reconfiguração do mercado do trabalho.
Pode parecer uma tarefa impossível.
Mas temos de acreditar que, com a educação e o saber que adquiriram na escola, eles serão capazes de, em espirito de solidariedade e de justiça social, tornar o nosso País e o Mundo mais fraterno e mais igual, no respeito pela dignidade da pessoa humana.
São estes os meus votos para todos vós.
Caros Alunos,
São de irrepreensível qualidade os trabalhos apresentados a concurso, mas nem todos podem vencer. Este ano, são os seguintes os premiados:
1º. Prémio – João Maria Damião, aluno do 12º ano da Escola Secundária Jaime Moniz;
2º. Prémio – Bernardo Luís Mendonça Flôr Rodrigues, aluno do 11º ano da Escola da APEL;
3º. Prémio – Matilde Medeiro Ferreira Brazão, aluna do 9º ano do Colégio de Santa Teresinha.
Parabéns pelo vosso trabalho e pelo vosso prémio!
Permitam-me, ainda, que agradeça a um conjunto de entidades sem as quais a entrega deste prémio não seria possível.
Ao júri do concurso, composto pelos escritores Irene Lucília Mendes de Andrade e Agostinho Lídio Gonçalves Araújo e pela Dra. Anabela Nóbrega Coelho Abreu Pita.
A Sua Excelência o Secretário Regional da Educação, Dr. Jorge de Carvalho e a todas as individualidades do Governo Regional que connosco colaboraram.
Ao meu Gabinete, pelo carinho que todos os anos dedica a este projeto e por todo o apoio que sempre me concedeu.
Por fim, uma palavra especial e pública à pessoa que esteve na origem deste Prémio: Carla Ferreira Barreto, minha mulher, também ela professora.
Esta iniciativa, afirmo-o com gosto, deve-se a uma ideia e empenho seu, pela qual lhe estou profundamente grato.
Muito obrigado a todos!