Cerimónias Comemorativas do Dia do Combatente e do 101º. Aniversário da Batalha de La Lys
Agradeço à Liga dos Combatentes e ao Senhor Presidente da Câmara de São Vicente o convite, que muito me honra, para presidir às Cerimónias Comemorativas do Dia do Combatente e do 101º. Aniversário da Batalha de La Lys.
É sempre com muita alegria que visito esta terra, de que guardo recordações inesquecíveis, pois foi aqui que, há muito, iniciei a minha carreira profissional.
A I Grande Guerra foi um dos períodos mais atrozes do século XX, deixando para a história um legado de 20 milhões de mortos.
Este elevadíssimo número — desconhecido até então em conflitos europeus — ficou a dever-se, essencialmente, aos novos tipos de armamento utilizado, produto da industrialização que caracterizou o século XIX que há pouco findara.
Algumas “novas armas” surpreendiam pela inovação tecnológica, designadamente, a generalização da aviação militar e dos submarinos.
Por outro lado, o uso de armas químicas — o gás clorídrico, primeiro, e o gás mostarda, depois — terão feito cerca de 1 milhão de baixas, entre as quais perto de cem mil mortos.
Também os tanques, com o famoso Mark I, constituíram um adquirido da guerra moderna a partir de então, assim como o desenvolvimento de novos canhões e morteiros com capacidades de destruição muito expressivas.
A I Grande Guerra marca também o início da generalização da metralhadora, uma invenção americana de finais do século XIX.
Todo este potencial bélico fez da Primeira Grande Guerra um período em que a Humanidade se surpreendeu a si mesma com as consequências brutais da tecnologia, e, em particular, da tecnologia aplicada ao âmbito bélico.
A Primeira Guerra Mundial chegou também à Madeira. A Alemanha declarou guerra a Portugal, a 9 de março de 1916, e nesse mesmo ano e no ano seguinte ocorreram os bombardeamentos da Cidade do Funchal, às mãos de submarinos alemães.
O Funchal, assim como a Horta e Ponta Delgada, foram as únicas cidades portuguesas bombardeadas no Século XX, e os madeirenses mortos nessas ocasiões as únicas vítimas civis em território português do Primeiro Conflito Mundial.
A Guerra alastrou-se também, aos territórios africanos, de Angola e Moçambique, onde muitos portugueses perderam a vida.
Mas estamos aqui hoje para relembrar a ação do Corpo Expedicionário Português na I grande Guerra e em especial na Batalha de La Lys, onde os nossos soldados se bateram heroica e tenazmente, atrasando o avanço do exército alemão e, porventura, impedindo que a investida deste ganhasse ao tempo outra escala.
A bravura dos militares portugueses nesse momento nunca será suficientemente assinalada e enaltecida. Desmoralizados, pois contavam ser rendidos por tropas inglesas, arrasados física e moralmente após cinco meses nas trincheiras, os militares portugueses foram buscar energia e coragem aos mais recônditos cantos da sua alma.
A relembrar esses campos de luta, o túmulo, instalado no Mosteiro da Batalha, na Sala do Capítulo, encimado pelo Cristo das Trincheiras e que recebeu dois corpos de soldados desconhecidos, um vindo da Flandres, outro de Moçambique, tem uma dignidade serena, que nos emociona e obriga respeitosamente a manifestar a nossa gratidão a todos os que tombaram no campo da honra.
Nesse campo da honra, caíram muitos dos nossos camaradas na chamada Guerra colonial, de que vós, membros da Liga dos Combatentes, aqui representais com saudade e galhardia.
E quero agradecer sentidamente o esforço que a Liga tem feito para dignificar as suas sepulturas e, sobretudo, para a transladação para o nosso território dos seus corpos, felicitando-a por ter visto coroado o seu esforço com a recente abertura de Angola para tanto.
Também nesta Região Autónoma a nossa comunidade sempre manifestou a sua gratidão para os seus filhos que tombaram na defesa da Pátria, prestando-lhes tributo em numerosas ocasiões, desde o grandioso monumento no Terreiro da Luta até ao recente esforço para imortalizar em memoriais e ruas o nome dos madeirenses sacrificados nos campos da Flandres e em terras de África.
Aliás, somos um povo que pode continuar a orgulhar-se das suas Forças Armadas, que, nos dias de hoje, em missões de Paz, prestigiam o nosso País.
Estou a pensar, sobretudo, na Força, aqui formada, em missão no Iraque, mas sem esquecer os que que se encontram um pouco por todos os Continentes, como os que ainda estão na Beira cumprindo com abnegação e altruísmo a sua missão de ajuda humanitária.
Parafraseando Sua Excelência o Presidente da República, diria que aqueles que estiveram e estão ao serviço de Portugal devem merecer o maior respeito e admiração, pois constituem um pilar essencial da reserva moral da Nação e são os melhores dos melhores de nós.
Recordá-los hoje, reforçando a sua permanência na nossa memória coletiva, é imperativo de consciência, para que as gerações mais novas e as vindouras nunca deixem de, através da sua invocação, celebrar a participação de Portugal na luta pela liberdade e pela dignificação humana.
Muito obrigado.
São Vicente, 5 de abril 2019