DISCURSO DO REPRESENTANTE DA REPÚBLICA PARA A REGIÃO AUTÓNOMA DA MADEIRA POR OCASIÃO DO DIA DO CONCELHO DE PONTA DO SOL, CELEBRADO A 8 DE SETEMBRO DE 2018
Começo por agradecer a V. Exa., Senhora Presidente da Câmara, o convite para, mais uma vez, voltar a esta terra que será sempre a minha, para convosco celebrar o Dia do Concelho da Ponta do Sol.
Como Representante da República tenho, sempre que me é possível, respondido afirmativamente aos convites que os senhores autarcas me dirigem para partilhar os dias de festa dos Municípios desta Região Autónoma.
É com imenso gosto e alegria que estou presente nestas sessões solenes, procurando contribuir para a celebração condigna deste Dia.
Dito isto, perdoar-me-ão os senhores autarcas convidados que afirme que tenho hoje uma acrescida satisfação por aqui estar.
Antes de mais, porque, sendo sempre um assumido madeirense, sou um orgulhoso pontassolense.
Sou-o nas memórias dos lugares, no calor das lembranças de infância, na saudade da família e dos amigos, na visita aos meus antepassados, no regresso sempre ansiado a estas imagens de sol e mar.
E, se me apraz recordar o passado, sinto ainda mais emoção no presente, ao ver aquilo em que a Ponta do Sol se tornou nos últimos anos.
Porque na Ponta do Sol se construiu uma terra onde se olha para o futuro com esperança.
E é justamente orgulho e esperança que agora sinto, ao estar presente no primeiro Dia do Concelho alguma vez realizado nesta Região Autónoma em que é uma mulher a Presidente de Câmara, eleita pela comunidade local para guiar os seus destinos.
Bem sei que, em matéria de igualdade de género, a exceção não deveria ser celebrada, e o verdadeiro motivo de festejar virá quando esta eleição, em que a Ponta do Sol foi pioneira, for seguida de tantas outras.
Mas até que esse dia chegue, permita-me, Senhora Presidente, que lhe dê os maiores parabéns pela eleição e por ter sabido superar as dificuldades com que decerto se teve de deparar.
E desejar-lhe, como mais um dos seus munícipes, as maiores felicidades no desempenho do seu cargo, e que possa constituir um exemplo para as novas gerações de autarcas que se seguirão.
Sei que para o seu trabalho Vossa Excelência pode contar com os pontasolenses, que são um povo sensível e determinado, lutador pelos seus direitos e liberdades.
Se acompanho com atenção o que se passa na nossa Região, compreendam que, por razões óbvias, eu dedique particular atenção ao que se passa no meu concelho.
A Ponta do Sol, repito-o com grande satisfação, é hoje um concelho de futuro, onde se conjuga, de forma porventura exemplar, o respeito pelo passado e pela tradição com a procura da modernidade e de novos horizontes.
Este concelho soube desenvolver-se no respeito pelas atividades tradicionais, pelo seu ambiente natural, pelas circunstâncias específicas, que obrigam a ponderar cuidadosamente o impacto de cada novo investimento, e soube encontrar na sua identidade uma fonte de riqueza económica e de desenvolvimento.
Nós temos um património civil e religioso invejável que deve fazer parte obrigatória dos roteiros turísticos: o teto da capela-mor da Igreja matriz é de carpintaria mudéjar, do melhor e mais impressivo; e, como não lembrar a Igreja do Espírito Santo, na Lombada, para muitos a mais bela da Região.
Mais e noutro campo: a Ponta do Sol tem hoje uma hotelaria de qualidade alicerçada na recuperação e reabilitação de edifícios, quer nos hotéis da frente mar, quer nos muitos alojamentos de qualidade em espaço rural.
Tem igualmente uma restauração com uma identidade única, nos espaços que se abrem sobre o mar nas várias freguesias ou nas ruas ancestrais do centro da Vila.
Desenvolve uma agricultura que, continuando o trabalho de gerações de pontassolenses, valoriza cada vez mais a cultura da bananeira como elemento caracterizador da paisagem, sobretudo na Madalena e no Lugar de Baixo.
E, principalmente, é um concelho que se define hoje como um verdadeiro pólo cultural da Madeira, assumindo-se como um ponto de encontro de cidadãos da Região e do Mundo e acolhendo as tendências artísticas mais contemporâneas.
Conciliando, em perfeita harmonia, os concertos L ou o Festival Aqui Acolá com o Festival Nacional e Internacional de Folclore, agora concluído com tanto sucesso.
Conjugando as sessões de cinema de autor, organizadas neste moderno auditório do Centro John dos Passos, onde nos encontramos, com os ciclos de cinema documental e de curtas-metragens no histórico Cinema da Ponta do Sol.
Multiplicando exposições e novas obras de arte urbana, onde há espaço para todos os olhares, desde a recolha etnográfica às visões futuristas.
Trata-se de um trabalho exemplar, que tem sido desenvolvido ao longo dos anos por entidades públicas, empresas comerciais e associações culturais, cuja colaboração em prol dos interesses do concelho devo também aqui elogiar.
Trabalho exemplar que V. Exa, Senhora Presidente, tem sabido continuar e desenvolver, valorizando aquilo que de bom foi feito pelas anteriores vereações, que também quero aqui destacar.
Pois é tempo de, sem esquecer as normais diferenças entre forças políticas que se alternam no poder, conseguirmos todos reconhecer e valorizar o que de bom foi feito antes de nós.
E este desígnio de definir a Ponta do Sol como um espaço multicultural, cosmopolita e aberto ao Mundo, é uma visão de futuro para a qual todos os que gostam desta terra devem contribuir.
Não consigo esquecer os temporais que devastaram, no início do ano, as várias freguesias deste concelho, quando o mar alteroso e a violência do vento conduziram à angústia e à perda a tantas famílias, como tive ocasião de presenciar de perto.
Esta relação de amor e medo que temos com os elementos da natureza é própria da nossa condição de ilhéus.
Felizmente, as consequências do temporal estão em larga medida superadas, em muito graças ao trabalho coordenado e ao entendimento que se estabeleceu entre Governo Regional e a autarquia da Ponta do Sol.
A este propósito, não duvido que será encontrada uma solução justa que permita compensar o trabalho esforçado dos produtores de banana, que o vento tanto prejudicou.
E espero que esse entendimento possa também ser alargado na busca de soluções consensuais para as questões de interesse comum.
Gostaria de terminar com um pensamento para os filhos da Ponta do Sol que estão emigrados “por esse Mundo Além”, como diz o nosso hino.
Sobretudo para os que, ao longo dos anos, demandaram a Venezuela, como foi o caso de vários familiares meus, e certamente de familiares da grande maioria dos presentes
Já publicamente expressei a minha opinião sobre a situação dos nossos conterrâneos emigrados na Venezuela, que têm regressado a esta Região Autónoma para evitar a gravíssima situação económica e social que atinge aquele país.
Penso que, para uma Região que tem ao longo dos anos sofrido uma acentuada erosão demográfica, decorrente da quebra de natalidade e da emigração das novas gerações, o regresso dos nossos emigrantes será, não um problema nem um incómodo, mas uma verdadeira oportunidade.
Desde que corretamente enquadrada, e contando com a indispensável solidariedade do Governo da República, a vinda dos nossos emigrantes, com a experiência de outras realidades e a sua capacidade de trabalho, poderá ser um importante fator de dinamização da nossa Região.
Mas para isso não basta dizermos que estamos solidários com eles, e que aceitamos acolhê-los.
É preciso que, depois de terem passado tantas provações, encontrem na nossa terra ajudas eficazes e rápidas, pelo que temos de ir tão longe nos apoios quanto as possibilidades dos nossos recursos permitirem.
Apoios que muitas vezes não exigem mais dinheiro.
Penso, por exemplo, na maior celeridade e agilidade que pode ser verificada no processo de naturalização.
Ou na maior flexibilidade que pode ser concedida no reconhecimento de habilitações escolares e profissionais.
Ou ainda na menor carga burocrática no recurso aos vários apoios previstos.
E porque me têm chegado, por diversas vezes, ecos de algumas dificuldades e demoras, faço daqui apelo a todas as entidades públicas - todas, sem exceção - para que, dentro das suas competências, continuem a trabalhar para que os nossos emigrantes na Venezuela, que decidiram regressar à nossa terra, que é também a deles, se sintam sempre bem acolhidos.
Celebrar o dia do concelho é, sempre, festejar aquilo que somos como comunidade e olhar para o futuro com esperança renovada.
Creio bem que os pontassolenses podem estar hoje felizes.
Vendo o muito que se conseguiu.
E acreditando que os dias de amanhã serão ainda melhores.
Parabéns a todos.
Viva a Ponta do Sol!
Viva a Madeira!
Viva Portugal!