PRÉMIO LITERÁRIO
2018
Renovamos hoje uma iniciativa que podemos já considerar uma tradição: a atribuição de um Prémio Literário que distingue o trabalho e o talento dos nossos jovens.
Afirmo-o não só com muita alegria como também emoção. Na verdade, nunca sabemos se a nossa melhor intenção encontrará o eco que idealizamos junto daqueles a quem se destina.
Pois bem, ano após ano, este Prémio tem excedido as minhas expetativas, prova inequívoca de que os nossos jovens querem participar e revelar os seus talentos. E essa vontade, essa coragem, enchem-me de alegria e de esperança.
Que melhor maneira de começar a comemorar “Portugal, Camões e as Comunidades Portuguesas” do que com uma invocação da nossa língua, símbolo máximo da nossa cultura?
E se a língua é o veículo de toda a nossa História quase milenar, serem os nossos jovens a lembrá-lo neste dia e nesta circunstância constitui uma extraordinária síntese entre o passado, o presente e o futuro, com um profundo simbolismo.
A nossa língua é, realmente, uma das traves que dão sentido à trindade “Portugal, Camões e Comunidades Portuguesas”. Foi em português que Camões nos apresentou ao Mundo, e foi em torno da língua portuguesa que se formaram as Comunidades Portuguesas.
Mas a nossa língua é também, desde Camões, uma expressão de irreverência, de aventura, de sonho, e de paixão. Com ela, exprimimos quem somos e toda a nossa ambição!
Que este concurso seja também uma homenagem ao ilustre poeta e à sua herança! E, quem sabe, seja também — porque não? — o prenúncio de novas referências da nossa língua.
Caros Alunos,
Os textos por vós apresentados a este concurso são o resultado do vosso empenho e trabalho.
Certamente, todos o viveram de formas diferentes.
Para uns, terá sido mais fácil decidir a ideia fundamental do texto; outros terão tido mais facilidade no próprio processo de escrita; outros terão começado mais rapidamente o primeiro parágrafo, num processo de auto-inspiração; e alguns terão certamente conseguido colocar o ponto final de forma mais pragmática e certeira do que outros.
Não surpreende que assim seja; pois no trabalho e no talento todos somos diferentes.
A mensagem que quero transmitir-vos é a de que com determinação e empenho tudo é possível, mesmo as metas aparentemente inalcançáveis.
Vivemos tempos em que o conhecimento é determinante.
Não sei, confesso, se alguma vez terá sido de outra maneira; mas essa é uma toada do nosso tempo, materializada em expressões como “economia do conhecimento”, “skills” ou ainda “competências do futuro”. Assim se pretende referir um valor não corpóreo — o do conhecimento e da sua mobilização — que pode alterar a face das sociedades e da vida de cada um.
Hoje em dia até mesmo as noções de “conhecimento” ou de “competência” não se mostram isentas de perplexidades. Nunca como antes o ser humano e, principalmente as gerações do futuro enfrentam desafios antes inimagináveis, como a concorrência entre o ser humano e as máquinas, que poderá, segundo alguns, vir a tornar-se desigual.
Realmente, as máquinas atuais são, ao mesmo tempo, ínfimos e gigantescos armazéns de informação, dotados de uma rapidez indescritível de processamento.
Diferente, portanto, terá de ser o conhecimento típico dos humanos.
Precisamos, por isso, de evoluir na descoberta do “porquê” das coisas, e de passar do mero conhecimento à sabedoria.
No futuro, é isso que nos vai diferenciar.
Creio que será menos importante que os humanos “saibam fazer” algo, e muito mais importante que “saibam porquê e para quê fazer” algo.
Neste sentido, considero essencial que as escolas comecem a preparar as nossas crianças e jovens para este efeito.
Temos que tomar consciência de que a tecnologia não vale por si e não é um valor em si mesmo.
A tecnologia deve permitir-nos atingir objetivos civilizacionais de forma mais inclusiva, igualitária e livre, no mundo da economia, do trabalho, da saúde, da segurança social, da justiça, da política, da indústria, da agricultura, entre tantos outros domínios da atividade humana.
Como diz Habermas, o género humano está “desafiado pelas consequências socioculturais não planificadas do progresso técnico, não só a conjurar, mas também a aprender a dominar o seu destino social”.
É uma tarefa para a qual estamos todos convocados – professores, alunos, famílias, sociedade civil -, pois o Homem não pode ser dominado pela “Inteligência Artificial”.
E estou certo de que o vasto território das “Humanidades” constituirá um elemento fulcral no equilíbrio social.
Aliás, muitas das competências hoje entendidas como “competências para o futuro” não poderão ser adquiridas sem a sua valorização.
Refiro-me a aspetos primordiais como a comunicação, a criatividade, a interpretação e análise crítica, a flexibilidade cognitiva, ou a inteligência emocional, pontos todos eles tremendamente valorizados e que contribuirão para que o mundo mantenha a matriz de uma felicidade assente em valores como a liberdade, a responsabilidade e a dignidade humana.
Sem querer minimizar o esforço das famílias, neste contexto, não posso terminar sem uma palavra às Senhoras Professoras e aos Senhores Professores, em especial aos que colaboraram ativamente nas tarefas associadas a este prémio literário, sem esquecer naturalmente todos os demais.
O que temos hoje perante nós — estes jovens e o produto da sua criatividade — é o resultado de muitos anos de trabalho da comunidade escolar, que tem nos professores um elemento estrutural e insubstituível.
Obrigado, Senhoras e Senhores Professores, por todo o vosso empenho, e pela motivação que souberam transmitir aos nossos jovens. Estes prémios que hoje atribuímos são também vossos.
Amanhã, como hoje, como sempre, é nas vossas mãos que, confiantemente, colocamos o nosso futuro, coisa que é de valor incalculável. Que os governos saibam interpretar e valorizar a vossa missão.
Os trabalhos apresentados a concurso são de grande qualidade.
Entre eles, o Júri slecionou:
1.º Prémio - Pedro Afonso Gonçalves Quintal, aluno do 12.º ano da Escola Secundária Jaime Moniz;
2.º Prémio - Ana Beatriz Correia Serrão Bettencourt Góis, aluna do 9.º ano do Colégio de Santa Teresinha;
3.º Prémio - Marta Luísa Pereira Freitas, aluna do 12.º ano da Escola Secundária Jaime Moniz.
Parabéns pelo vosso trabalho e pelo vosso prémio!
A todos os estudantes aqui presentes deixo uma mensagem forte:
Sim, vale sempre a pena estudar!
Costumo salientar que “saber é poder”. E se o saber da vida, da experiência, é essencial, o saber que vem da dedicação ao estudo é indispensável e eterno.
Nunca desistam; prossigam os vossos estudos na certeza de que isso vos dará frutos que de outro modo nunca colheriam.
Tomem a vossa vida nas próprias mãos: quanto mais prosseguirem nos estudos mais autónomos serão; mais livres serão!
Permitam-me, por fim, que agradeça a um conjunto de entidades sem as quais a entrega deste prémio não seria possível.
Ao júri do concurso, composto pelos Drs. Irene Lucília Andrade, que presidiu, Agostinho Lídio Araújo e Anabela Nóbrega Abreu Pita, que, mais uma vez, de uma forma generosa e abnegada, leram os trabalhos e selecionaram os vencedores.
A todas as individualidades do Governo Regional que connosco colaboraram, o meu sincero obrigado; em especial, ao Senhor Dr. Jorge Carvalho, Secretário Regional de Educação, e ao seu Gabinete, pelo empenho solidário, permitindo que este concurso tivesse uma latitude e uma abrangência reconfortante.
Ao meu Gabinete, pela dedicação com que ano após ano abraça este projeto e por todo o apoio que sempre me concedeu.
Por fim, uma palavra à pessoa que esteve na origem deste Prémio: Carla Ferreira Barreto, minha mulher, também ela professora de Português.
Esta iniciativa deve-se a uma ideia e empenho seu, pela qual lhe estou profundamente grato.
Muito obrigado a todos!