Cerimónia Comemorativa dos 180 anos da ESJM/Liceu do Funchal

MENSAGEM PROFERIDA PELO REPRESENTANTE DA REPÚBLICA PARA A REGIÃO AUTÓNOMA DA MADEIRA POR OCASIÃO DA CERIMÓNIA COMEMORATIVA DOS 180 ANOS DA ESJM/ LICEU DO FUNCHAL, NO DIA 4 de OUTUBRO de 2017

            Começo por agradecer à Direção da Escola, na pessoa do seu Diretor, Dr. Jorge Moreira,  o convite para aqui estar convosco, a celebrar os quase dois séculos desta Instituição ímpar na nossa comunidade, à qual gerações sucessivas de madeirenses continuam, até hoje, a chamar “o Liceu”.

            Casa de educação, cultura e ciência, foi o berço de inúmeros talentos e de destinos singulares, de carreiras profissionais de excelência e de percursos brilhantes, mas foi sobretudo o local onde tantos e tantos milhares de jovens cresceram e chegaram, num ambiente sadio e guiados por mestres generosos, à idade adulta.

            A importância da escola na sociedade é evidente para todos: se é a escola o centro do saber, e se “saber é poder”, é nela que se começa a desenhar, em cada geração, o nosso futuro coletivo.

            É por isso que – e dirijo-me aqui em particular aos atuais alunos – a principal ferramenta para a vida, com que um dia sairão pela porta principal desta casa, é o saber.

Portanto, estudem; leiam; pensem; interessem-se pelo mundo e procurem sempre as vossas respostas. Verão que vale a pena!

O nosso Liceu Jaime Moniz é um exemplo e uma referência.

Daqui saíram alunos que vieram a distinguir-se nas mais diversas áreas do saber, tanto nas humanidades como nas ciências.

Nada disso seria possível sem um sentido de instituição, isto é, um projeto com as suas próprias referências e desenvolvido por pessoas sucessivas que nele acreditam e que por ele trabalham.

Olhando esta plateia, de tantos ex-alunos e alunos, professores e antigos professores, funcionários no ativo e aposentados, reunidos numa celebração comum, tenho como claro que é nas histórias individuais de cada um de nós, que melhor se escreve a Memória desta nossa escola.

Recordo a escola, a minha escola, e ao vê-la hoje, parece-me que os valores fundamentais não são tão diferentes dos que outrora cultivávamos: amizade, solidariedade, raciocínio, descoberta, cumplicidade.

Eram essas as raízes da nossa escola; ficaram essas as nossas próprias raízes. E que valores mais nobres —pergunto— se poderiam ambicionar?

Mas muito mudou.

E ainda bem. A escola tornou-se muito mais inclusiva; as diferenças de género perderam o resto de preconceito que importava que perdessem; e as de proveniência social e familiar também.

Noutro plano, hoje a escola está repleta de novas tecnologias; há projetos e falamos de “competências”.

Enfim, temos hoje um paradigma educativo diferente, que tem por objetivo preparar os alunos para a competitividade ao mais exigente nível, sempre sem esquecer o pilar fundamental da solidariedade.

 A escola abriu-se ao mundo. Já não é uma escola de muros, à qual tudo o que chega de novo “vem de longe”.

Hoje, com as tecnologias disponíveis no bolso de estudantes e professores, deixou de existir o “lá fora” e o “cá dentro”; o conhecimento apenas acessível a alguns foi substituído pela informação acessível a todos.

Mas é justamente esta troca do conhecimento pela informação — que a tecnologia possibilita e acelera — que levanta novos desafios.

Mais do que nunca, é fundamental aprender a comunicar, a programar, a criar, a integrar; enfim, a ser autónomo e resiliente. Isto porque os desafios de outrora talvez fossem mais previsíveis que os de hoje.

Hoje somos confrontados com a necessidade de uma nova compreensão da relação entre cada um de nós e o ambiente e a sociedade que nos rodeia.

São novos desafios, para os quais temos de apetrechar os nossos jovens o melhor que soubermos, e colher das suas experiências instrumentos atualizados para esse desiderato.

Mas, permitam-me que esqueça por instantes esta minha condição transitória de Representante da República, e regresse por momentos aos meus 12 anos, para vos falar do meu Liceu. 

Ao Liceu Jaime Moniz, então a única escola secundária pública na Madeira, cheguei em Outubro de 1953, para frequentar o 3º ano (hoje 7º).

E o Liceu foi para mim significado de uma sólida formação  como pessoa.

 Aqui despertei para a vida, formei o meu modo de ser e de estar.

O meu Liceu era um todo, do Reitor, o Dr. Ângelo Augusto da Silva, passando pelo pessoal não docente, e obviamente pelos meus professores, alguns dos quais me marcaram para sempre, e não apenas pelo seu saber, mas também como homens e mulheres de uma sólida formação cívica.

Esses meus Mestres, por vezes em situações complexas, conseguiram transmitir e incutir em nós, valores e referências que nos guiaram pelos caminhos da vida e da cidadania.

E como poderia esquecer-me dos meus colegas e amigos?

As amizades forjadas no Liceu foram para sempre; e, é sempre com alguma ansiedade que aguardo os nossos encontros para reviver momentos únicos, para partilhar cumplicidades, para, enfim, continuarmos a estar unidos nas recordações de um tempo que não volta: o tempo do Jaime Moniz.

Neste nosso Liceu, desde 1980, Escola Secundária, estudaram e estudam inúmeros jovens que através da construção do seu conhecimento e do contato com o seus pares e professores, contribuem não apenas para contar a história social, económica, política e cultural de Portugal e desta Região, mas também assumiram e assumem a sua cidadania ativa em múltiplos setores da sociedade.

 Muitos parabéns aos que se reclamam, hoje como ontem, de terem ajudado de qualquer modo ao cumprimento do objetivo final da nossa Escola: formar e preparar os nossos jovens e apetrechá-los para encararem com confiança o futuro.

Honrando a sua Ilustre história, é imperioso afirmar que o Liceu/Escola Jaime Moniz, que agora comemora 180 anos, foi e deve continuar a ser uma “Escola de Vida”.

A vida de todos nós.

Muito obrigado!