DISCURSO DO REPRESENTANTE DA REPÚBLICA PARA A REGIÃO AUTÓNOMA DA MADEIRA POR OCASIÃO DO 515ºANIVERSÁRIO DO CONCELHO DE PONTA DO SOL
A Ponta do Sol é o concelho do meu coração. Aqui nasci e vivi a minha infância. Daqui guardo as minhas primeiras recordações. A minha reminiscência desse tempo confunde-se hoje com o carinho que sinto pela terra e pelas suas gentes.
Não é preciso recordar como tudo então era diferente, bem diferente. Aqui, como aliás, em toda a Região.
O desenvolvimento dos últimos 40 anos é notável. As infraestruturas, as condições socioeconómicas, a qualidade de vida em geral, tudo conheceu uma melhoria difícil de resumir em poucas palavras, mas que todos sentimos no dia a dia.
A freguesia dos Canhas – onde hoje nos encontramos – é um bom exemplo disso mesmo, com o seu dinamismo e capacidade de diversificação em termos de atividade económica.
Quero hoje dar aqui os meus parabéns à autarquia, ao Município e às suas Freguesias, pelo trabalho que vêm desenvolvendo.
Assim mostram que, trabalhando conjuntamente, com o forte empenho de todos, é possível melhorar a condição das pessoas que aqui vivem e oferecer um ambiente acolhedor aos que nos visitam.
Minhas Senhoras e Meus Senhores,
O Dia do Município da Ponta do Sol comemora, por conseguinte, mais um aniversário de um concelho moderno que, como poucos outros, soube desenvolver-se com respeito pelo seu ambiente natural, pelo seu passado e pelas suas memórias, mas abrindo horizontes ao futuro.
Olhando para a sua tradição agrícola e rural, valorizando a identidade de cada uma das suas freguesias, mas assumindo-se como um ponto de encontro de cidadãos do Mundo e acolhendo as tendências culturais mais contemporâneas.
Se a Ponta do Sol continua a ser os poios de bananeiras que sobem a montanha e abraçam o mar magnífico onde o sol poente se dilui ao fim de cada dia, é também hoje um destino turístico com uma identidade única, com o seu festival de cinema, com os seus concertos de Verão, com a qualidade da programação do Centro Cultural John do Passos, num ambiente cosmopolita que encanta e atrai.
E é por este legado de que é um dos principais autores, Senhor Presidente da Câmara, que não posso deixar de o felicitar, agora que se aproxima o fim do seu mandato.
Felicitá-lo pela inteligência com que soube equilibrar o respeito pelo passado com a vontade de aceitar os desafios do futuro.
Felicitá-lo pela serenidade com que trabalhou, distinguindo na sua ação política o que é prioritário e essencial do que é ilusório e supérfluo.
Felicitá-lo, finalmente, por ter olhado sempre em primeiro lugar para os interesses da Ponta do Sol, e ter conseguido unir os munícipes no orgulho que, como eu, sentem em serem filhos deste concelho.
Minhas Senhoras e Meus Senhores,
O facto de hoje ser dia de festa não pode fazer esquecer os incêndios que assolaram a nossa Região neste último mês, e constituíram uma tragédia de enormes proporções.
Também a Ponta do Sol foi duramente atingida, no seu património florestal e nos terrenos e haveres de muitos dos seus munícipes.
Comungando da dor de quem passou por momentos de aflição, e de quem viu o fogo levar muitos dos seus bens, a todos dirijo uma palavra de conforto e amizade.
Nunca é demais também tornar a agradecer publicamente àqueles que, com todas as suas forças, contribuíram para que a desgraça não fosse maior e que trabalharam, e continuam a trabalhar todos os dias, para que a vida da comunidade retome a normalidade.
Nestes tempos difíceis, expressões como “solidariedade”, “coesão”, “esforço conjunto”, “trabalho incansável”, “dedicação”, “resiliência” ganharam para todos nós uma dimensão atual e muito concreta.
E temos todos confiança de que vamos continuar a ser, como aliás os recentes índices confirmam, um destino turístico de excelência porque a Região é única naquilo que tem para oferecer aos que nos visitam.
Minhas Senhoras e Meus Senhores,
Tão importante como reconstituir o que se perdeu, é aprender com o sucedido.
E cabe a cada um de nós perguntar, ao seu nível, no papel que desempenha na comunidade, o que pode fazer para evitar que estas tragédias se repitam, e tenham consequências tão devastadoras.
E temos todos – desde os eleitos políticos aos especialistas, desde os agricultores aos proprietários, desde a comunicação social aos operadores turísticos – de nos questionar não apenas se fizemos o que devíamos para prevenir e combater eficazmente os incêndios mas o que deve ser feito no futuro próximo.
Exige-se aqui uma reflexão profunda que passará, entre outros, pelo ordenamento do território e pela definição de uma estratégia florestal – que espécies devem ser plantadas e de que modo -, pelo tratamento a dar aos pirómanos, nomeadamente qual a moldura penal adequada que, sem prejudicar os princípios gerais de um Estado de direito democrático, possa responder à prevenção geral e especial, pelo papel da comunicação social – como informar sem esquecer a profunda ação pedagógica que coloque em destaque a importância da nossa floresta e do nosso património urbano -, bem como a ação formativa que deve ser pedida às nossas escolas.
Tudo isto e o mais que os especialistas nesta área possam acrescentar exige um esforço conjunto de todos, sociedade civil e poderes públicos, na identificação dos problemas e na busca de soluções.
Se essa reflexão que considero urgente for feita, e as lições do passado forem compreendidas, estou seguro de que estaremos cada vez melhor preparados para combater e ao menos minimizar os infortúnios que o clima em mudança nos vai continuar a colocar.
Minhas Senhoras e Meus Senhores,
Quando vejo tantas manifestações de solidariedade do nosso povo, tenho de ser otimista: com trabalho e o empenho de todos, com a ajuda concertada das instituições regionais e nacionais, vamos edificar uma Região e um Concelho ainda melhores.
Não tenho dúvida que assim será, e aqui estou para prestar o meu apoio em tudo o que me for possível.
Viva a Ponta do Sol!
Viva a Madeira!
Viva Portugal!
Canhas, Ponta do Sol, 8 de setembro de 2016