INTERVENÇÃO DO REPRESENTANTE DA REPÚBLICA PARA A REGIÃO AUTÓNOMA DA MADEIRA POR OCASIÃO DA SESSÃO SOLENE DO DIA DO CONCELHO DO FUNCHAL, NO DIA 21 DE AGOSTO DE 2016
É com grande satisfação que aqui estou, a responder ao honroso convite do Senhor Presidente da Câmara, para celebrarmos o Dia do Município do Funchal.
O dia maior desta cidade, que é a nossa capital, a sede da nossa identidade coletiva e que este ano se comemora sob a sombra da tragédia, ainda bem viva entre nós.
Nas cores, nos sons e nos cheiros.
No sobressalto e na perda.
Quero, antes de mais, curvar-me respeitosamente à memória daqueles funchalenses que o fogo nos levou, comungando da dor sentida pelos seus familiares.
E apresentar a minha solidariedade às muitas famílias que tiveram prejuízos materiais avultados, partilhando no entanto a confiança de que será possível recuperar o essencial do que foi perdido.
Mas também é imperioso, porque nunca é demais fazê-lo, agradecer publicamente àqueles que tanto contribuíram para que a desgraça não fosse maior e que trabalharam, e continuam a trabalhar todos os dias, para que a vida da comunidade retome a sua pulsação normal.
Agradecer a todos os Bombeiros, que nunca cederam nem às chamas, nem ao desânimo, nem à exaustão de dias seguidos de combate.
Agradecer às forças de segurança, PSP, GNR e Polícia Florestal, que, em situações limite, deram o seu melhor no cumprimento do dever de proteção das populações.
Agradecer ao Exército, sempre disponível e eficiente no socorro e amparo à Comunidade.
Agradecer às muitas organizações de voluntariado e assistência, especialmente à Cruz Vermelha Portuguesa, que todos os dias fazem do amor ao próximo uma realidade concreta.
Agradecer a todos os colaboradores do SESARAM, inexcedíveis na ajuda aos sinistrados e no carinho prestado aos muitos doentes evacuados.
Agradecer, sem poder nomeá-los, a tantos e tantos anónimos, que, tornando a coragem banalidade, arriscaram a sua vida para salvar pessoas e bens - da sua família, dos seus vizinhos e amigos, e, não raras vezes, de concidadãos que antes nem sequer conheciam.
E agradecer a todo o Portugal, do Minho aos Açores, que seguiu com ansiedade aqueles tão tristes dias, com uma vontade de ajudar bem patente nas visitas do Presidente da República e do Primeiro-ministro.
Mais do que a sorte, mais do que o tempo, foi a coragem de toda uma Nação, coesa e solidária, que parou o horrendo fogo que desceu da montanha, e o fez recuar.
Como se fosse do Funchal e de todos o lema que, em tempos idos, o Comandante Vasco Camacho escolheu para os Bombeiros Voluntários Madeirenses – “Os que avançam quando todos fogem”.
Porque ninguém fugiu.
E é por isso que encontramos todos hoje aqui, em relativa normalidade.
Comemorar o Dia do Funchal é partilhar o privilégio de estarmos numa cidade única.
Com mais de 500 anos de História gloriosa, cidade desde sempre aberta ao Mundo, atlântica e europeia, o Funchal é porto de partida e chegada de sucessivas gerações de madeirenses e turistas.
Que renovam a admiração por este anfiteatro esplêndido, por este clima ameno, e pelo calor e amizade dos funchalenses.
Mas comemorar o dia do Funchal, neste momento em particular, é também relembrar um passado com frequência visitado pela tragédia.
Os ataques dos corsários, que pilhavam as poucas riquezas e dizimavam a população.
A guerra, com os bombardeamentos submarinos em 1917.
A repressão, com o esmagamento pelo Estado Novo das Revoltas dos anos trinta.
Tantas vezes a fome e a escassez, fruto da distância e da indiferença de um poder público ausente.
Mas sobretudo a tragédia, que ciclicamente nos chega da fúria dos elementos naturais, sob a forma de tempestades, incêndios e aluviões, e nos relembra a nossa pequenez.
Mas, ontem como hoje, os funchalenses vão resistindo.
Sempre orgulhosos da sua cidade.
Resilientes e esperançosos, mesmo depois da tragédia.
E, talvez, ainda mais fortes e coesos como Comunidade.
Se o Dia do Município se repete uma vez a cada ano que passa, é importante que esta comemoração, além de festiva, tenha sempre um sentido útil.
E sirva também para, olhos nos olhos com o futuro, a Cidade e todos os seus atores refletirem sobre o que querem ser.
No atual contexto é particularmente importante que assim seja.
Olhar o futuro sem perder tempo em recriminações, em tacticismos e em palavras vãs.
Porque aquilo que a comunidade espera dos seus representantes é que, em conjunto, possam trabalhar para recuperar dos acontecimentos do passado, e prevenir as incertezas do futuro.
E que, com naturais divergências pontuais, possa sempre prevalecer aquilo que deve unir os poderes públicos democráticos - o supremo interesse das populações que representam.
Como Representante da República, desejo reconhecer e agradecer o modo como, desde a primeira hora, todos os responsáveis públicos diretamente envolvidos responderam no concreto, dando resposta aos desafios colocados.
E, saiba, Senhor Presidente, que pode o Funchal, como todos os concelhos da Região atingidos, contar com a minha total disponibilidade para ajudar no esforço de reconstrução.
Desejo-vos a todos as maiores felicidades neste Dia do Concelho.
Viva o Funchal.
Viva a Região Autónoma da Madeira.
Viva Portugal.