INTERVENÇÃO DO REPRESENTANTE DA REPÚBLICA PARA A REGIÃO AUTÓNOMA DA MADEIRA POR OCASIÃO DA SESSÂO SOLENE DO DIA DO CONCELHO DO PORTO MONIZ, NO DIA 22 DE JULHO DE 2016
É com grande satisfação que aqui estou a responder ao honroso convite do Senhor Presidente da Câmara para celebrar convosco o Dia do Concelho do Porto Moniz.
Um dia que marca a passagem de mais um aniversário, distantes que estamos quase 600 anos desde que o povoador Francisco Moniz se estabeleceu na então chamada Ponta do Tristão e aí edificou, junto ao mar, a primitiva capela dedicada a Nossa Senhora da Conceição.
A capela original desapareceu há muito, o nome da povoação cedo mudou para Porto Moniz, em justa homenagem ao seu fundador, mas a fé do povo na sua Padroeira manteve-se inalterada.
E é essa fé, esse respeito pelas suas tradições e pelo seu passado, que tanto caracteriza os porto-monizenses e que hoje aqui celebramos.
Porque é na força do seu passado que todas as comunidades têm de construir a esperança e a confiança no futuro.
Minhas senhoras e meus senhores,
Nunca nada foi dado ao povo deste Concelho.
Tudo foi conquistado.
Conquistado a uma terra fértil e rica, mas inacessível e indomável.
Conquistado a um Mar imenso e generoso, mas inconstante e bravio.
Conquistado aos acessos caprichosos, que levaram a que esta comunidade se tivesse de valer a si própria em inúmeras circunstâncias.
Conquistado à distância física dos centros de decisão, que tantas vezes levou ao esquecimento dos poderes públicos.
E, como em todas as conquistas, também o povo do Porto Moniz tem os seus heróis, a quem gostaria neste dia de prestar uma singela homenagem.
Antes de mais, as mulheres do Porto Moniz que, entre inúmeras dificuldades, com os maridos tantas vezes ausentes nos caminhos da emigração ou precocemente perdidos nos trabalhos da terra e do mar, souberam orientar os filhos no respeito pelos valores e sem nunca descurar a educação formal, como se comprova pela invulgar percentagem de cidadãos nascidos neste concelho com curso superior.
Heróis os agricultores que, ao longo de gerações e com a força dos seus braços como único auxílio, souberam desbravar as escarpas e os montes, murar os poios e transformá-los em terrenos férteis, onde nascem produtos hortícolas de excelência e se pratica hoje uma vitivinicultura com futuro.
E os pescadores que, desde os primórdios do Concelho até hoje, passando até pelos perigos da caça à baleia, procuram nos abismos do mar o sustento dos seus, tantas vezes com o risco da própria vida.
Heróis, também, os emigrantes que, na busca de amanhãs menos duros para as suas famílias, demandaram terras distantes,- mas que, nas ruas de Cape Town ou no mercado de Maracay, guardaram “a nostalgia, que vive para sempre no coração, da infância e dos barcos”, como diz o poeta José Agostinho Batista -, e que sempre contribuíram, regressando e investindo, para o desenvolvimento desta terra.
E toda a Comunidade, afinal, pelo espírito de união e cooperação que sempre soube manter, quer em tantas formas de trabalho em entreajuda, quer na alegria com que vive as suas tradições.
Mas todas as dificuldades se ultrapassaram: este concelho é hoje um exemplo de desenvolvimento sustentável e de qualidade de vida dos seus residentes, e conquistou um lugar ímpar no coração dos madeirenses e dos turistas que nos visitam.
Com uma paisagem magnífica, do Véu da Noiva ao Fanal, das piscinas naturais à Levada dos Cedros, que atrai milhares de visitantes por dia.
Com uma agricultura única, onde a Laurissilva primitiva se confunde com os poios laboriosamente trabalhados.
Com condições ímpares para a prática de desportos de Natureza, desde às caminhadas a pé aos desportos náuticos.
Com infraestruturas públicas de referência, desde os Portos aos equipamentos desportivos, passando pelo Aquário e por este Centro de Ciência Viva.
Com alojamentos, restauração e equipamentos turísticos de excelência, onde as preocupações ambientais e o respeito pela autenticidade estão sempre presentes.
Mas, sobretudo, com um povo alegre e hospitaleiro, que sabe como poucos viver as suas tradições únicas e as suas festividades, como tão bem se manifesta nas festas dos vários padroeiros, desde o Santo Antão à Nossa Senhora da Encarnação, da Nossa Senhora da Conceição à Nossa Senhora do Livramento.
Minhas senhoras e meus senhores,
É porque tenho total confiança no futuro do Porto Moniz que gostaria de falar, com toda a frontalidade, nas dificuldades que os próximos anos não deixarão de colocar.
E a grande questão, na qual acabam por desaguar todas as outras, é a regressão demográfica do concelho, o envelhecimento da população, a fuga dos jovens para outras paragens.
Que constitui, sejamos claros, uma situação que a todos deve preocupar.
E é justo reconhecer que importantes passos têm sido dados pelas entidades públicas, nomeadamente por este Município, para minimizar o problema, sobretudo pelo apoio efetivo aos idosos, proporcionando-lhes a qualidade de vida que tanto fizeram por merecer em anos de trabalho duro.
Como também é de salientar o esforço continuado que, desde há anos, a autarquia vem fazendo no apoio diversificado às escolas do Concelho e na concessão de bolsas de estudo aos seus estudantes universitários e que se tem traduzido em alguns notáveis resultados escolares.
Mas é preciso dar sequência a esse trabalho, não baixando os braços.
As condições das quais o Concelho do Porto Moniz hoje beneficia, as infraestruturas, as acessibilidades, os serviços públicos, tudo aquilo que se conseguiu com as décadas de desenvolvimento que a Autonomia trouxe, só fazem sentido se as pessoas aqui residentes puderem delas beneficiar.
Só se compreende o desenvolvimento com as pessoas e para as pessoas.
Urge, por conseguinte, implementar, em articulação com todos, Governo Regional e populações, uma estratégia de atuação que permita que os jovens filhos desta terra, muitas vezes os mais qualificados, não tenham de continuar a emigrar, e que outros possam ser atraídos a aqui encontrar emprego e constituir família.
E para que aqueles que emigraram, nomeadamente para destinos que vivem hoje situações de profunda crise económica e social, se possam sentir confiantes no regresso à sua terra.
Para essa estratégia local, que passará necessariamente por criar empregos e novas iniciativas empresariais, não só na área do turismo, mas também na agricultura, na criação cultural e no artesanato, nos pequenos serviços, nas empresas familiares e até na descentralização de serviços públicos, todos devem ser convocados, incluindo os municípios da Costa Norte.
A Costa Norte tem uma sinergia própria que deve estimulada e acarinhada por todos aqueles que a amam e a defendem.
É essa a responsabilidade dos eleitos, antes de mais as autarquias locais, sabendo-se da grande proximidade e conhecimento que têm das populações, passando pelo Governo Regional e, naquilo que lhes compete, também pelos órgãos de soberania.
Porque, ainda que com naturais divergências pontuais, deve sempre prevalecer aquilo que une a atuação dos poderes públicos - o supremo interesse das populações que representam.
Para esse trabalho, árduo mas fundamental, desejo-lhe, senhor Presidente, que mantenha sempre vivo o seu entusiasmo.
E saiba que pode o Porto Moniz, como todos os concelhos da Região, contar, com a minha total disponibilidade para ajudar.
Permitam-me que termine citando o senhor Presidente da República, em discurso recente na Câmara do Porto - “O que nos divide e diminui conhecemos todos (...); é tempo de falar menos do que nos deprecia e falar mais daquilo que nos valoriza”.
Desejo-vos a todos as maiores felicidades neste Dia do Concelho.
Viva o Porto Moniz.
Viva a Região Autónoma da Madeira.
Viva Portugal.