Cerimónia de homenagem ao Alferes Gabriel Rocha de Gouveia

Mensagem proferida por Sua Excelência o Representante da República para a Região Autónoma da Madeira na cerimónia de homenagem ao Alferes Gabriel Rocha de Gouveia, no dia 24 de Fevereiro de 2016, na freguesia do Arco da Calheta

Na História de todos os povos e comunidades, há silêncios inexplicáveis, memórias por assinalar sem que para tal se encontre justificação.

Sempre chega porém o momento de quebrar esses silêncios, preencher os hiatos da memória com a justa homenagem aos que disso são plenamente merecedores, mas que, por razões tantas vezes insondáveis, não são devidamente recordados.

A I Grande Guerra foi a primeira tragédia de dimensão global que envolveu toda a humanidade.

Milhões perderam a vida, e outros tantos viram-na radicalmente alterada, na Europa e fora dela.

Portugal também se viu envolvido nessa Guerra Global, por motivações que oscilavam entre a manutenção do Império, o perigo espanhol e a consolidação do regime republicano.

Nesse período, os soldados portugueses combateram a Alemanha na Flandres, mas também nos territórios africanos, em Angola e Moçambique.

E fizeram-no em condições de grande sacrifício, muitos deles sem preparação, mal equipados e mal armados, enfrentando condições adversas além daquelas que o inimigo por si só representava.

Em Angola e Moçambique, os nossos soldados viveram então sem apoio médico sanitário apropriado, com uma alimentação desadequada, atuando ainda num contexto de hostilidade das populações.

Na Europa, a rude imagem das trincheiras que, de uma forma ou de outra, retemos na nossa memória, e nas quais os nossos soldados perderam a vida – entre eles, o nosso Alferes Gabriel Rocha de Gouveia - tanto à mão do inimigo como em razão da crueldade das condições aí vividas, é mais do que uma alegoria.

Nas três frentes de batalha, os nossos combatentes assumiram, de um modo geral, uma conduta digna e corajosa, por vezes heroica, enfrentando, com enorme falta de recursos, cenários e condições no limite da resistência humana.

  Com singular dedicação espírito de sacrifício serviram a Pátria e é esta mesma Pátria que lhes está grata e os olha com profundo respeito.

Recordá-los é um dever que temos.

Para com os nossos mortos no teatro de guerra.       

Para com as suas famílias.

Para com a nossa consciência.

É pois um imperativo de justiça que nos reúne aqui hoje.

O Alferes Gabriel Rocha de Gouveia nasceu a 26 de setembro de 1887, nesta freguesia.

Combateu por Portugal na I Grande Guerra, tendo sido ferido a 14 de agosto de 1917.

Meses mais tarde, tombaria em combate, na primeira linha das trincheiras no Norte de França, a 12 de outubro de 1917.

Alguns outros militares madeirenses que combateram neste primeiro conflito mundial já haviam sido recordados e homenageados aqui na Região.

É chegada, pois, a altura de continuar essa linha histórica, recordando o Alferes Gabriel Rocha de Gouveia.

Com efeito, está para breve o centenário da declaração de guerra da Alemanha a Portugal, a 9 de março de 1916, bem como – ainda este ano - dos primeiros bombardeamentos da Cidade do Funchal, a 3 de dezembro de 1916.

Esta é, portanto, a ocasião adequada para recordar o Alferes Gabriel Rocha de Gouveia, no contexto do centenário de importantes momentos históricos de um conflito em que o mesmo heroicamente participou por Portugal e pela Região.

Mas importa ir mais além, perpetuar publicamente, de um modo que for considerado mais adequado, os outros madeirenses que nesse contexto tombaram na defesa da nossa Pátria e que ainda não obtiveram a homenagem que também merecem.

Refiro-me àqueles que o Elucidário Madeirense indica:

-     Henrique José de Sousa Machado, tenente de infantaria, morto a 30 de outubro de 1914, no sul de Angola, na defesa do Forte de Cuangar, na margem esquerda do rio Cubango;

-     e Alberto de Sena Mendes, 1.º sargento, morto em Naulila, Angola.

Curvando-me perante a memória de todos eles, nossos Heróis, direi:

Ditosa Pátria que tais filhos teve.

 

Muito obrigado