Em honra de sua excelência o Primeiro-Ministro da República de Cabo Verde

ALOCUÇÃO DE SUA EXCELÊNCIA O REPRESENTANTE DA REPÚBLICA PARA A REGIÃO AUTÓNOMA DA MADEIRA POR OCASIÃO DA VISITA DE SUA EXCELÊNCIA DO PRIMEIRO-MINISTRO DE CABO VERDE

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 É motivo de alegria receber Vossa Excelência, Senhor Primeiro-Ministro de Cabo Verde, bem como a ilustre delegação que o acompanha.

Cabo-Verde e a Madeira partilham muito: desde logo, uma história que remonta às respetivas descobertas, a do Porto Santo e da Ilha da Madeira, entre 1418 e 1419, e a das Ilhas do Arquipélago de Cabo Verde, cerca de quatro décadas mais tarde.

E, neste capítulo, como em muitos outros, nós estamos muito próximos, como reconheceu Gabriel Mariano quando afirmava que, não fora um pormenor despiciendo, e o homem cabo-verdiano em nada se distinguiria do madeirense. 

Ambos os arquipélagos têm testemunhado a vocação marítima de Portugal, que Cabo Verde, em particular, soube fazer sua.

É este mar que nos separa e nos une, mar que condiciona a nossa vida e, como reconheceu a geração dos “claridosos”, se é “prisão” que impede o homem de alargar os seus horizontes, é também “evasão” que nos permite adquirir novos saberes, novas experiências, e, paradoxalmente, a possibilidade de sobrevivência.

Também nós partimos, sem partir, para as “terras longe”, ou partimos apenas para poder regressar, ou seja, nunca esquecemos as nossas origens.

E, perdoem o parêntese, não posso falar de emigração sem evocar os refugiados que batem desesperados à porta da Europa, Europa que tem de ser digna de si própria, terra matriz dos valores fundamentais da dignidade humana.

Estou certo que uma solução urgente vai ser, tem de ser, encontrada no respeito daquela dignidade, no respeito dos direitos humanos que há muito enformam a civilização europeia.

Excelências:

A Macaronésia, conjunto de arquipélagos composto por Cabo Verde, Madeira, Açores e Canárias, é fruto da mesma ideia atlântica, e mostra a vitalidade e identidade próprias destas ilhas.

Espero, por isso, que a institucionalização da Macaronésia, iniciada em 2010, justamente sob o impulso Cabo-Verdiano, encontre renovadas energias para prosseguir o seu caminho tão importante, na afirmação da sua posição geoestratégica, na interceção entre as rotas do Atlântico Norte e Sul.

Aliás, é preciso não esquecer que, ao longo destes 40 anos, Portugal e Cabo Verde souberam organizar uma parceria com um intenso intercâmbio nas artes, na política, na ciência, na economia, no turismo, nas energias renováveis, refletida na presença de uma comunidade cabo-verdiana, em Portugal, e portuguesa, em Cabo Verde, sendo a Região Autónoma da Madeira elemento estrutural desta nossa presença.

E todo este mar que nos rodeia, – temos mais mar do que terra -, deverá ser cada vez mais uma aposta no desenvolvimento e consolidação de uma verdadeira economia benéfica para todos.

Senhor Primeiro Ministro:

Cabo Verde e Portugal partilham a língua e o seu contexto político-cultural, a que a CPLP tem dado corpo.

Nesta organização, é grande a responsabilidade que temos todos para com a língua portuguesa, porque é através dela que comunicamos a nossa amizade e a nossa diversidade: sobre ela assenta uma comunidade de cultura de valor incalculável.

E a fraternidade que sentimos está bem escorada, tanto politicamente como social, cultural e economicamente; poucos como nós compreendem a palavra que nos aproxima e nos identifica: saudade – o sentimento único que dá forma às vossas “Mornas” e ao nosso Fado.

Cabo Verde tem contribuído de uma forma decisiva para a valorização e afirmação internacional da língua portuguesa, sendo essencial, para tanto, o Instituto Internacional da Língua Portuguesa, sediado na Praia.          

Excelência:

Cabo Verde tem, desde a sua independência, sido um exemplo de país que quer e sabe desenvolver-se, apostando na qualificação dos recursos humanos, na modernização económica e administrativa e no desenvolvimento tecnológico, o que é ampla e unanimemente reconhecido e respeitado pela comunidade internacional.

A esse reconhecimento não são alheios a maturidade e o exemplo da democracia cabo-verdiana, aliada à clarividência dos seus dirigentes.

E, neste contexto, gostaria de sublinhar o apelo que recentemente Vossa Excelência fez ao País irmão, Guiné-Bissau, para o retorno à ordem constitucional e ao pleno respeito pelo Estado de Direito Democrático.

            Por tudo isto, Senhor Primeiro Ministro, estou seguro de que esta visita vai fortalecer ainda mais as nossas relações e torná-las mais atuantes.

Muito obrigado.

Funchal, 16 de setembro de 2016