MENSAGEM PROFERIDA PELO REPRESENTANTE DA REPÚBLICA PARA A REGIÃO AUTÓNOMA DA MADEIRA POR OCASIÃO DA CERIMÓNIA DE ENTREGA DE PRÉMIOS DO CONCURSO LITERÁRIO “DIA DE CAMÕES DE PORTUGAL E DAS COMUNIDADES PORTUGUESAS”, NO DIA 6 de JUNHO de 2015
Com a cerimónia de hoje, inicia-se as comemorações do dia 10 de junho, “Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas”.
Vejo este ato como uma homenagem às novas gerações.
Procura-se, desta forma, associar os mais novos às comemorações deste dia, tão importante para todos nós e para a nossa cultura.
Para tal, entendi promover um concurso ao qual foi dado o mesmo nome da data que celebramos.
Pretende-se premiar, assim, a excelência da escrita e da comunicação em língua portuguesa.
Entendo-a como sendo fundamental em qualquer sociedade moderna e um sinal de civilização.
O património linguístico e literário tem um valor em grande medida intangível, que transporta em si todo o lastro cultural de um povo e da sua história.
A língua, escrita e falada - como a ciência, aliás -, precisa de ser praticada, aperfeiçoada, porque é nesse aperfeiçoamento que se joga o incremento cultural, civilizacional e até mesmo de valores humanos.
Costuma dizer-se que não há maior desafio que uma folha de papel em branco.
E é justamente esse desafio que nos permite abrir um espaço de reflexão sobre temas que interessam à nossa vida coletiva, reforçando a coesão e a consciência nacional e promovendo o diálogo intergeracional que a cultura tão bem propicia.
Estimados alunos,
Minhas senhoras e meus senhores:
A língua é uma ferramenta de valor incalculável.
Devemos saber manuseá-la com a maior mestria que nos for possível.
Sem o domínio desta não podemos aceder ao conhecimento.
Tenho salientado em diversos momentos que “saber é poder”.
Quero hoje reafirmar essa mensagem, de modo impressivo, aos mais jovens.
Na medida em que implica tomar opções, o agir – a vida - precisa da imaginação, isto é, da capacidade de “ver aquilo que não está à vista”, uma capacidade de entendimento gerada na e pela cultura, dando autonomia à pessoa para alcançar coisas novas, que nunca existiram, que nunca foram feitas.
É o saber que permite “agir” – e não simplesmente “fazer”; e a necessidade de agir pergunta pelo sentido das coisas, pelo nosso sentido, imaginando a construção do futuro, com atrevimento, perante o tempo.
A língua é, pois, cultura, mas também acesso ao conhecimento; e o conhecimento, o saber, é também poder.
Devo, no entanto, observar que a aprendizagem da língua, instrumento precioso, não significa apenas saber escrever e saber ler.
Aprender traduz, acima de tudo, a capacidade de compreender e interpretar o que nos é dito e o que está escrito.
Trata-se de algo fundamental, que deve estar presente na consciência de todos, nomeadamente alunos e professores.
A compreensão - a compreensão do que a língua transmite – vai muito além do significado das palavras.
Visa, sobretudo, um entendimento quanto ao sentido das coisas e do mundo.
Daí que a iliteracia não se resuma à incapacidade para interpretar textos, antes abrangendo a incapacidade para entender contextos.
E é decisivo para o progresso de Portugal e dos portugueses o combate à iliteracia; e neste combate, o vosso esforço, Senhores Professores, é determinante.
Tenho uma genuína admiração pelo vosso trabalho que quotidianamente realizam, e quero por isso homenageá-lo também, assim como à vossa perseverança em proporcionarem o melhor ensino aos nossos alunos, tantas vezes com dificuldades que parecem intransponíveis.
E, neste momento, desejaria significar o meu profundo reconhecimento a todos aos professores que nas vossas escolas conseguiram motivar os alunos a participar neste concurso, de modo a que ele viesse a ganhar uma projeção que honra a educação na nossa Região.
A escola deve, em meu entender, lutar tão arduamente quanto possível para tornar os alunos ávidos de saber e preparados para lidar com questões complexas.
Note-se que esta necessidade é atualmente tanto mais relevante quanto o mercado de trabalho solicita uma formação cada vez mais avançada.
Às licenciaturas, já de si tão exigentes, acrescem hoje mestrados (e por vezes doutoramentos) que os empregadores já não dispensam.
E, a este nível, o domínio da língua e a expressão escrita e oral são condições essenciais de sucesso.
Minhas Senhoras e meu Senhores,
A língua portuguesa une povos do mundo inteiro.
Dizia Fernando Pessoa que “A minha Pátria é a língua portuguesa”.
Na verdade, a nossa língua mãe é uma das mais faladas a nível mundial, o que tem um valor incalculável e nos identifica civilizacionalmente.
Nela – na nossa língua – depositamos em grande medida a esperança da nossa afirmação num mundo em que também as culturas concorrem entre si.
E esta esperança é redobrada ao ver o patamar de qualidade dos trabalhos apresentados a concurso, nomeadamente os dos premiados.
Quis o destino – ou será outra a razão? – que este ano todos os distinguidos fossem do sexo feminino: enfim, aqui não houve quotas nem (des)igualdade de género, apenas qualidade literária.
Parabéns pelo vosso trabalho e pelo vosso prémio!
Dirijo-me, por fim, a todos os estudantes aqui presentes:
Pode, por vezes, assaltar-vos a dúvida: vale a pena estudar, ser bom aluno, obter um grau universitário, quando isso já não garante à partida uma oportunidade de emprego?
Com base, não só na minha experiência, mas em dados objetivos, a resposta é só uma e sem equívocos:
Sim, vale sempre a pena estudar!
A observação da nossa realidade socioeconómica leva a concluir que os que menos estudam são os mais desfavorecidos num espaço de grande competitividade e exigência.
Não tenham hesitações.
O vosso conhecimento será a vossa arma para enfrentar os desafios das vossas vidas, sabendo que quanto mais profundo for esse conhecimento, menor dificuldade terão em ultrapassar as adversidades.
Permitam-me, por fim, que agradeça a um conjunto de entidades sem as quais a entrega destes prémios não seria possível.
Ao júri do concurso, composto pelos Senhores Drs. Irene Lucília Andrade, que presidiu, Agostinho Lídio Araújo e Maria Eduarda Campos Teixeira Silva, que, de forma abnegada, aceitaram apreciar os trabalhos apresentados e escolher os vencedores deste prémio.
A todas as individualidades da Secretaria Regional da Educação que connosco colaboraram, o meu muito obrigado também: em especial ao Senhor Dr. Jorge Carvalho, Secretário Regional de Educação, e sem esquecer o Senhor Dr. Jaime Freitas, anterior Secretário Regional da Educação e Recursos Humanos, que connosco se empenhou na instituição deste prémio, e muito colaborou para a respetiva disseminação e brilho.
Ao ver os resultados do prémio deste ano, fico certo de que o bom trabalho continuará com Vossa Excelência Senhor Secretário e com a vossa equipa, a bem dos nossos jovens em especial.
Ao meu Gabinete, pela dedicação com que abraçou este projeto e por todo o apoio que sempre me concedeu.
Por fim, uma palavra especial e pública à pessoa que esteve na origem deste Prémio: a Professora Doutora Carla Ferreira Barreto, minha mulher, também ela professora de Português e especialista em literatura de Língua Portuguesa.
Esta iniciativa, afirmo-o com gosto, deve-se a uma ideiae empenho seu, pela qual lhe estou profundamente grato.
Muito obrigado a todos!