Cerimónias evocativas do 96º. Aniversário do Dia do Armistício da Grande Guerra, 91º. Aniversário da Liga dos Combatentes, 40º. Aniversário do Fim da Guerra do Ultramar e a Evocação do Centenário do início da Grande Guerra.

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Mensagem do Representante da República para a RAM nas cerimónias evocativas do 96º. Aniversário do Dia do Armistício da Grande Guerra, 91º. Aniversário da Liga dos Combatentes, 40º. Aniversário do Fim da Guerra do Ultramar e a Evocação do Centenário do início da Grande Guerra.

 

Minhas Senhoras e Meus Senhores,

A I Grande Guerra foi a primeira tragédia de dimensão global que envolveu toda a humanidade.

Milhões perderam a vida, e outros tantos viram-na radicalmente alterada, na Europa e fora dela.

O mundo não voltaria a ser o mesmo.

Também Portugal se viu envolvido naquela guerra.

Nesse período, os soldados portugueses combateram a Alemanha na Flandres, mas também nos territórios africanos, em Angola e Moçambique.

E fizeram-no em condições de grande sacrifício, muito deles sem preparação, enfrentando condições adversas que iam para além daquelas que o inimigo representava.

Em Angola e Moçambique, os nossos soldados viveram então sem apoio médico sanitário apropriado, com uma alimentação desadequada, atuando ainda num contexto de hostilidade das populações.

Na Europa, a rude imagem das trincheiras que, de uma forma ou de outra, retemos na nossa memória, e nas quais os nossos soldados perderam a vida, tanto à mão do inimigo como à da crueldade das condições aí vividas, é mais do que uma alegoria.

A trincheira representa também a descrição da solidariedade, da resiliência e da coragem, frente ao desvanecimento da humanidade, hora após hora, semana após semana, mês após mês.

Numa época de intensa, e por vezes insana, agitação política nacional, os soldados portugueses, que combateram na Grande Guerra por Portugal, e por uma ordem internacional de orientação atlântica, foram, são e serão sempre, uma referência nacional.

Gente simples e anónima que intuiu, com nobreza e convicção, a importância de combater e oferecer a vida pelo seu país, pelo seu modo de vida e pela paz.

A coragem, abnegação, dedicação e o amor à Pátria que então revelaram constitui, para todos nós, um exemplo e um legado.

Devemos-lhes, por isso, uma justa e sempre renovada homenagem.

É, aliás, simbólico que o façamos aqui, na nossa Região, palco de diversos episódios de guerra, entre os quais o duplo bombardeamento do Funchal, causador mortos e danos consideráveis.

E é também significativo que nos congreguemos para tal junto ao Monumento em Honra dos Combatentes Madeirenses Mortos durante a Guerra do Ultramar.

Porque a homenagem a um soldado que tombou no campo de batalha é uma invocação de todos os demais, daqueles que ofereceram o seu bem maior – a vida- na defesa dos interesses superiores da nossa Pátria.

Nestes tempos em que os mais nobres valores são por vezes postos em causa, é necessário que a exaltação dos nossos heróis se faça com visibilidade para chegar ao coração da nossa sociedade, permitindo‑lhe conhecer o legado histórico que herdamos dos nossos antepassados e possibilitando que o transmitam às gerações futuras. 

O túmulo, instalado no Mosteiro da Batalha, na Sala do Capítulo, encimado pelo Cristo das Trincheiras e que recebeu dois corpos de soldados desconhecidos, um vindo da Flandres, outro de Moçambique, tem uma dignidade serena, que emociona e nos obriga respeitosamente a manifestar a nossa gratidão.

Mas, comparando a sua localização com a de outros Estados, tenho de constatar que lhe falta alguma centralidade e visibilidade.

Em rigor, os que tombaram pela Pátria, representados no simbolismo do Soldado Desconhecido, podiam estar presentes num local porventura mais central, permitindo que todos deles se recordassem quotidianamente como exemplo.

É que, no fundo, o soldado desconhecido simboliza a dimensão humana das nossas Forças Armadas.

E são justamente as Forças Armadas, um dos pilares da integridade da nossa Pátria, que, ontem como hoje, nos têm possibilitado viver num estado de direito democrático, com respeito pelos valores da justiça e do primado da lei, onde as liberdades fundamentais e a dignidade da pessoa humana, matriz de todos os direitos humanos, estão asseguradas.


É justamente por tudo isto que a realização destas cerimónias cumpreo elementar dever de tornar pública a nossa gratidão: homenagear todos quantos deram a vida nestes conflitos e preservar, também através do papel singular da Liga dos Combatentes, a sua memória.

Muito obrigado.