No dia 22 de março, pelas 15h30, Sua Excelência o Representante da República na na cerimónia comemorativa do 77.º aniversário do núcleo regional da Liga dos Combatentes, proferiu a seguinte mensagem:
Minhas Senhoras e meus Senhores:
Constitui para mim uma honra estar presente no aniversário do núcleo regional da Liga dos Combatentes.
Por diversos motivos, pessoais e institucionais.
Mas, sobretudo, porque também sou um antigo combatente.
Muitos de nós participaram na guerra em África ou estiveram envolvidos em missões de paz nas quais o País tem estado empenhado.
Dessas participações soubemos retirar ensinamentos.
Ensinamentos sobre a amizade e a solidariedade, mas também sobre a nossa capacidade para nos superarmos.
Os nossos combatentes assumiram, de um modo geral, uma conduta digna e corajosa, por vezes heroica, enfrentando, com enorme falta de recursos, cenários e condições adversos no limite da resistência humana.
Essa dedicação, esse espírito de sacrifício serviu a Pátria e é esta mesma Pátria que vos está grata e vos olha com sentido e profundo respeito.
Combatentes: em cada um de vós encontramos um exemplo de cidadania e um testemunho de valores, como a solidariedade e a honra.
E os combatentes que defenderam a Pátria em África foram os mesmos que souberam resgatá-la no dia 25 de abril, devolvendo a Portugal o regime democrático, fazendo com que o País seja mais livre, mais solidário, mais aberto ao Mundo.
Aliás, sem a afirmação de uma sociedade democrática, o progresso económico, civil e, também, autonómico, não se teria verificado.
Parafraseando Sua Excelência o Presidente da República, diria que aqueles que combatem ou combateram ao serviço de Portugal devem merecer de todos nós o maior respeito e admiração, pois constituem um pilar essencial da reserva moral da nação.
Como afirmei noutra ocasião, a disciplina, o espírito de camaradagem e de solidariedade que vos norteiam, representam nos tempos atuais um exemplo para uma sociedade carente de inspiração para superar a crise que, sob diferentes perspetivas, nos atinge.
Mas, não obstante tudo o que fizeram, é triste verificar que nem sempre a Pátria exprimiu, de forma adequada, a gratidão que merecem.
Refiro não apenas a recompensas expressas materialmente mas igualmente a atitudes que, mesmo de pequena dimensão, têm, para os antigos combatentes, um enorme significado.
Tenho particularmente presente o problema da dignificação das sepulturas e da transladação de corpos.
Como antigo combatente, pude presenciar a perda de vidas humanas que tombaram em cenário de guerra.
Não quero ressuscitar, neste momento de festa, imagens que nos perturbam, mas deixei-me voltar, por breves instantes, ao ano de 1966, a Macaloge, no Niassa, Moçambique, ao funeral de dois companheiros do meu Batalhão que tombaram numa emboscada e que ali ficaram inumados.
Eles como tantos outros que deram o seu bem mais precioso, merecem ter as suas sepulturas dignificadas e, deixei-me ser um “utópico realista”, regressar um dia à Pátria amada.
Permitam-me enaltecer o papel da Liga na prossecução daqueles dois objetivos, ainda que saibamos que tal tarefa dificilmente será um dia integralmente concluída.
Mas é um dever que temos.
Para com os nossos mortos no teatro de guerra.
Para com as suas famílias.
Para com a nossa consciência.
Excelências:
A Liga dos Combatentes promove, através da sua atividade, a derradeira filosofia do combatente: servir a Pátria independentemente de ideologias, credos ou raças.
A Liga representa também um último refúgio, por vezes, a última esperança dos combatentes que aqui encontram um espaço de solidariedade, diria mesmo de amizade, que os ajuda a minimizar as agruras da vida; a Liga responde assim ao seu lema: “valores Permanentes; Liga dos Combatentes em todas as Frentes”.
No momento presente, a vossa ação é preciosa e espero que a prossigam com empenho na certeza de que os olhamos com orgulho.
Ao Núcleo do Funchal da Liga dos Combatentes, em particular, na pessoa do seu Presidente, Exmo. Sr. Tenente Coronel Bernardino Laureano, queria deixar os meus parabéns pelo aniversário e pela atividade realizada ao longo destes anos.
Vivam os combatentes, viva a Região Autónoma da Madeira, viva Portugal.
A todos, muito obrigado.