Mensagem proferida em honra da Marinha, por ocasião da deslocação à Região Autónoma da Madeira de Sua Excelência o Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada e Autoridade Marítima Almirante José Carlos Saldanha Lopes a 5 de julho de 2011.
Singularidades da minha vida, deram-me a alegria de, em dois dias seguidos, poder manifestar publicamente a minha paixão pelo mar.
Marinheiro envergonhado pelo fraco domínio das artes, o máximo que consegui nesta área foi um lais de guia sem nobreza, como se os nós quisessem alguma vez esses títulos de linhagem.
Deixei, pois, que o mar embalasse a minha infância e juventude e me marcasse profundamente, de modo a que a nostalgia renascesse sempre que os alcatruzes da vida me obrigaram a viver longe das suas ondas.
Compreendam por isso nosso contentamento, o de minha mulher e o meu, por podermos conviver com a mais alta entidade marítima, perdoem-me a minha imprecisão, com o guardião-mor desse bem precioso que é o nosso mar.
Como bem recordou Sua Excelência, o Presidente da República, o mar deve tornar-se uma verdadeira prioridade da agenda política nacional, constituir de novo um grande desígnio nacional; e ao apostarmos na economia do mar, apostamos numa nova centralidade para Portugal: já não o país onde a Europa acaba, mas o País onde o mar e o Mundo começam.
Mas se assim deve ser, como não reconhecer o papel central da nossa Marinha de guerra na defesa desse mesmo valor, cada vez mais presente e apetecido?
Estou seguro que hoje, como no passado, a nossa Marinha de guerra saberá honrar a sua missão e continuará a dignificar a sua divisa: a Pátria honrai que a Pátria vos contempla.
Temos também a felicidade de juntar neste lugar, que acolheu outrora tantas caravelas e naus das descobertas, que aqui arribavam em busca de “aguada”, o senhor Comandante e alguns oficias e cadetes da guarnição da nossa Sagres.
Não será um exagero elegê-la não só como o mais português dos nossos navios, o mais reconhecível e o único cujo nome todos os portugueses conhecem, mas como um dos grandes símbolos da Nação.
A Cruz de Cristo nas suas velas lembra-nos os momentos mais altos da nossa História; mas se isso é uma verdade categórica, não é menos importante sublinhar a sua vocação de navio-escola.
A educação deve ser, cada vez mais, assumida também como um desígnio nacional, pedra essencial do nosso desenvolvimento e afirmação no Mundo; a Portugal, país pequeno e com poucas riquezas naturais para além do mar, só resta investir na educação e fazer de pessoas tecnicamente preparadas, criativas, com iniciativa e ética de trabalho, a sua principal fonte de riqueza.
Que essa formação tenha lugar em pleno mar não deixa de ser simbólico, pois o mar não pode continuar a ser, como já assinalei, o nosso recurso natural eternamente adiado.
Daí ter solicitado que cadetes da Sagres e alguns dos melhores alunos da Universidade da Madeira se juntassem à nós para estes breves momentos de convívio mutuamente enriquecedores.
Minhas senhoras e meus Senhores:
Não pretendo alongar-me mais, mas perdoem que ceda ainda uma vez ao meu vício de fracassado marinheiro, terminando com uma alusão à arte de bolinar, tão essencial para termos chegado ao Cabo da Boa Esperança.
Em tempos adversos, os ventos são sempre contrários.
Mas um navio à vela avança, bolinando.
É desse engenho que hoje precisamos, e mais do que um símbolo de glórias passadas, a Marinha deve representar a esperança num futuro melhor.
Por tudo isto, bebo, e peço a todos que me acompanhem, à saúde de Sua Excelência, o Almirante Chefe do Estado Maior da Armada e Autoridade Marítima, Almirante Saldanha Lopes, e à prosperidade da Marinha, de Portugal e desta minha Região Autónoma.